
Uma força-tarefa composta por policiais federais, civis, militares, agentes da Receita Federal e integrantes dos Ministérios Públicos desencadeou na manhã desta quinta-feira uma das maiores operações contra o crime organizado já vistas no país. São 350 alvos e as investigações apontam vínculos diretos ou indiretos deles com a maior facção criminosa do país, a paulista Primeiro Comando da Capital (PCC). No caso, o uso da cadeia de produção e revenda de combustíveis para lavar dinheiro oriundo do tráfico de drogas.
Conforme a Operação Carbono Oculto, o PCC está por trás de um esquema de importação de metanol (um tipo de álcool extremamente inflamável e tóxico) para misturá-lo na gasolina, fraudando tanto a qualidade quanto a quantidade do combustível e gerando sonegação de impostos. Parte dos lucros foi investida em duas operações conexas: compra de revendas de combustível e de usinas de cana de açúcar que produzem etanol (álcool para veículos).
Tivemos acesso aos documentos da investigação. Eles mostram que alguns comerciantes que comercializaram suas revendas de combustíveis para o PCC não receberam o dinheiro prometido e foram ameaçados de morte, caso insistissem em cobrança. Outros, já em débito, foram obrigados a vender seus postos.
A compra de postos de gasolina foi viabilizada por meio de fundos de investimento controlados pela facção, aponta a Polícia Federal. Seriam mais de 40 financeiras, a maioria em São Paulo. O uso dessas instituições de pagamento, em vez de bancos tradicionais, tinha o objetivo de dificultar o rastreamento do dinheiro.
Parte da investigação foi desencadeada após alerta feito por um delator do PCC, o empresário Antônio Vinícius Gritzbach. Ele detalhou esquema de investimento em postos de combustíveis feito pela organização criminosa, como maneira de disfarçar lucros obtidos com o tráfico.
Gritzbach foi assassinado de forma impressionante em 8 de novembro de 2024, no aeroporto de Guarulhos (SP), o maior do país. Um grupo de mascarados o fuzilou. As investigações apontam que a maioria dos assassinos eram policiais. Entre outras revelações, o delator apontou agentes das polícias Civil e Militar de São Paulo que estavam na folha de pagamento do PCC.
Gritzbach estava ameaçado de morte não só por policiais, mas também por um dos empresários que, segundo a PF, é chefe do esquema de adulteração de combustíveis. Como se vê, os negócios da facção misturam gasolina e sangue. Pelo menos por enquanto o Rio Grande do Sul escapou dos tentáculos do esquema, conforme o inquérito policial. Mas em 2022 uma facção gaúcha desenvolveu mecanismo idêntico de lavagem de dinheiro, com a diferença de que atuava só na revenda, não na produção de combustível.


