
Sobrou para direita e esquerda na rede de espionagem clandestina apontada pela Polícia Federal em inquérito concluído agora. Conforme a investigação, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) foi aparelhada por um esquema de monitoramento ilegal para atender a interesses políticos e pessoais de Jair Bolsonaro (PL) e integrantes de sua família. Um filho do ex-presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), está entre os 30 indiciados.
Conforme o inquérito, a Abin teria utilizado 60 mil vezes o software "espião "FirstMile" durante o governo Bolsonaro, sobretudo para monitorar adversários políticos de Bolsonaro, mas também autoridades judiciais e parlamentares diversos. O sistema permite rastrear celulares em tempo real. Para encontrar o alvo, basta digitar o número do contato telefônico dele no programa e acompanhar em um mapa a última posição - o objetivo é saber onde está o monitorado, quem ele visita, com quem conversa.
Além do filho de Bolsonaro, um dos principais indiciados é o ex-diretor da Abin e atual deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ). Mas o curioso é que também foram indiciados dois sucessores de Ramagem na agência de inteligência que pertencem ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT): o atual diretor-geral da Abin, o delegado federal Luiz Fernando Corrêa, e o seu número dois, Alessandro Moretti. Ambos, segundo a PF, teriam feito um conluio com a direção anterior para que o escândalo da espionagem ilegal não viesse a público.
Gaúcho, Corrêa é nome de confiança de Lula (já chefiou a Polícia Federal, inclusive), assim como Ramagem é homem do aparato de Bolsonaro. Nenhum deles se pronunciou até agora sobre o indiciamento.
Para os que gostam de uma intriga, é impressionante a conclusão da PF: dois adversários políticos combinando para que um escândalo não viesse à tona. Será mesmo? Só vendo o que o Judiciário dirá. O certo é que o tédio mora longe deste país chamado Brasil.