
Ronen Bergman, jornalista israelense e ex-correspondente do New York Times em Jerusalém, é autor de um livro sensacional intitulado "Levante-se e Mate Primeiro". É a história dos serviços secretos de Israel e de como eles se livraram dos inimigos ao longo dos séculos XX e XXI, de forma silenciosa ou em ataques ostensivos — como aconteceu na madrugada passada com o Irã.
Bergman mostra que o DNA de Israel, mesmo antes de se consolidar como país, recebe influência de um antigo ensinamento judaico, contido no Talmude (coleção de livros sagrados do judaísmo): "Se alguém vier matá-lo, levante-se e mate primeiro." Um provérbio seguido à risca pelos diversos serviços secretos israelenses, como deixa claro o jornalista nas 854 páginas do livro.
Especialista em assuntos militares, Bergman colheu aplausos e manifestações de ódio com sua obra. Ele enumera e detalha, uma a uma, operações feitas por judeus contra seus inimigos desde antes da existência formal de Israel. A eliminação de autoridades britânicas ou turcas, por exemplo, na primeira metade do século XX, quando a então chamada Palestina não pertencia nem a judeus e nem a árabes, mas às potências imperiais de fora da região.
A criação de Israel, em 1948, foi seguida de uma invasão patrocinada por diversos países árabes, que demonstravam inconformismo com o desembarque de milhares de judeus num território que consideravam pertencente aos árabes palestinos. Os israelenses venceram aquela primeira guerra e as demais (1956, 1967 e 1973), mesmo com alguns reveses. Bergman mostra que isso ocorreu com a presença onisciente de agentes infiltrados pelos serviços secretos israelenses junto aos seus inimigos.
As informações coletadas pelos agentes são usadas, basicamente, de duas formas: para ações às claras, que embutem propaganda para aterrorizar o inimigo (como é o caso do ataque a instalações militares e nucleares iranianas ocorrido agora) ou para eliminar sem ruídos uma liderança adversa. Há o caso, por exemplo, de um líder palestino que adoeceu e morreu, enquanto estava escondido na Alemanha, em decorrência de uma pasta de dente na qual foi inoculada veneno.
Um exemplo claro da política de alcançar o inimigo onde quer que ele esteja aconteceu após os ataques de terroristas palestinos nas Olimpíadas de Munique em 1972. Na ocasião, onze integrantes da equipe olímpica de Israel foram tomados reféns e assassinados pelo grupo terrorista palestino denominado Setembro Negro.
A vingança tardou, mas não falhou. O Mossad, principal serviço secreto israelense, lançou a Operação Cólera de Deus e assassinou, ao longo de 20 anos, os principais envolvidos no massacre dos atletas. Foram dezenas de mortes a tiros, explosões e envenenamentos.
No caso do Irã, esta semana, houve uma mescla das duas táticas. Antes de realizar os bombardeios expostos ao mundo inteiro (como exemplo do que pode acontecer a seus inimigos), Israel conseguiu infiltrar equipes do Mossad em território iraniano, dias antes do ataque. Esses agentes ativaram sistemas teleguiados que permitiram desarticular bases de mísseis terra-ar do sistema defensivo iraniano.
A TV iraniana também mostrou que um míssil atingiu o apartamento de um cientista nuclear em Teerã. Com tal precisão que o prédio não desmoronou: o objetivo era exatamente aquele alvo, marcado com posição de GPS enviada aos lançadores de foguetes israelenses.
Esse tipo de ação fica mais fácil quando o governante pouco liga para as críticas aos possíveis efeitos colaterais da operação militar (como a morte de civis, por exemplo). Algo que parece se aplicar ao primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu.