
Engajados agora no maior conflito entre países do Oriente Médio registrado em décadas, os governos iraniano e israelense já foram aliados. Com o recente ataque dos Estados Unidos a instalações nucleares iranianas, o cenário geopolítico se intensifica, reacendendo a importância de revisitar a complexa trajetória histórica entre Teerã e Tel Aviv.
O Irã apoiou a criação de Israel, em 1948. E também foi dos primeiros a admitir e reconhecer sua existência, ao contrário da maioria dos países árabes da região.
Importante destacar que, apesar de ter religião oficial muçulmana, o povo iraniano não é árabe, mas da etnia persa - civilização que teve seu apogeu milhares de anos atrás, com domínio sobre todo o Oriente Médio. Desde a Antiguidade o rei persa era chamado de xá e assim continuou ao longo da maior parte do século XX. Foi o xá Mohammad Reza Pahlavi, um grande aliado do Ocidente, quem reconheceu em 1948 a existência de Israel, que não fazia parte do seu leque de inimigos.
Dando continuidade a essa aproximação, desde 1955 Israel comprava petróleo do Irã, enviado pelo oleoduto de Eilat Ashkelon. E inclusive assinaram em 1977 um acordo militar de troca de óleo iraniano por mísseis isralenses. Difícil de acreditar, para quem vê a situação atual. Não por acaso, dias atrás um ministro israelense posou para foto com Reza Pahlavi, líder de oposição iraniana e filho do xá Pahlavi que governava o Irã antes dos radicais islâmicos.
Acontece que os Pahlavi (o primeiro Reza e, antes dele, seu pai) comandaram a antiga Pérsia com mão de ferro. Opositores eram trancafiados ou mortos, enquanto o casal real iraniano esbanjava dinheiro em viagens aos países ocidentais ou trazendo convidados para festanças milionárias no Irã.
Em outubro de 1971, Reza Pahlavi organizou uma enorme festa em Persépolis (outrora capital do Império Persa). Uma luxuosa cidade de tendas foi erguida para receber os convidados, na qual foram usados 37 quilômetros de seda. Para as festividades foram importados 50 mil pássaros canoros da Europa, além de 18 toneladas de comida vinda de Paris. De nacional, mesmo, só foi servido caviar, dizem testemunhos da época.
Tudo isso contrastava com a pobreza em que vivia a maioria dos persas. De tal forma que um movimento político clandestino e subterrâneo, baseado no fundamentalismo islâmico, ganhou corpo e se consolidou no Irã. As pregações por uma revolta popular eram feitas por clérigos muçulmanos radicados sobretudo na Europa, como o aiatolá Ruhollah Khomeini.
Em 1979 os apelos de Khomeini resultaram na derrubada do xá Pahlavi, que teve de fugir para o Exterior, onde morreu. Naquele mesmo ano a política externa iraniana deu uma guinada. Os Estados Unidos da América, aliados de Pahlavi, passaram a ser chamados de "Grande Satã". Israel foi ameaçada de ser varrida do mapa pelos jovens revolucionários islâmicos.
Khomeini governou o Irã, numa ditadura teocrática, até morrer. E foi sucedido por outros aiatolás (altos sacerdotes que professam a fé xiita, um dos dois ramos principais do islamismo). São eles que tentam barrar agora a investida israelense, desencadeada após a revelação de que os iranianos estariam prestes a construir sua primeira bomba atômica. Israel e os EUA não escondem que, além disso, o objetivo é também desgastar ao máximo a República Islâmica. De preferência, com o seu fim. Conseguirão? Ainda é cedo para dizer.