
A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Com as exportações de carne bovina brasileira aos Estados Unidos afetadas por uma tarifa de 76,4%, o setor corre para diversificar mercados e reduzir os prejuízos — estimados em mais de US$ 1 bilhão neste segundo semestre. Em meio a esse cenário, o México surge como peça-chave: em setembro, o país inicia uma missão sanitária que pode destravar a habilitação de 14 novas plantas frigoríficas brasileiras, uma delas, gaúchas — além de renovar 35 antigas. A medida, informada durante a 48ª Expointer à coluna pelo presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Roberto Perosa, é considerada estratégica, pode aliviar parte das perdas e ampliar as alternativas comerciais da proteína no exterior.
Conduzida pelo Senasica, órgão sanitário mexicano, a auditoria será feita de forma presencial entre os dias 15 a 26 de setembro. Antes disso, uma reunião remota de alinhamento será realizada no próximo dia 10.
Entre os frigoríficos que devem passar pela auditoria, estão unidades da BRF (RS), Minerva (MG, RO e MT), JBS (GO e RO), Marfrig (MT), Iguatemi (MS), Distriboi (RO), Agra (MT), Prima (GO), Better Beef (SP), Meat Snack (SP) e Frisa (ES). Todos esses ainda não estão habilitados a exportar para o território mexicano.
A habilitação de novas plantas é vista como uma reação ao tarifaço imposto pelos EUA, que reduziu a margem de rentabilidade dos exportadores brasileiros.
— Quanto mais mercados, maior a segurança para toda a cadeia produtiva, do campo à indústria — salientou o presidente da Abiec.
Ainda assim, há exportações para o mercado norte-americano em andamento, impulsionadas pela escassez de carne no país — que vive o menor ciclo pecuário dos últimos 80 anos.
— É um mercado extremamente rentável. Mesmo com a tarifa, os EUA seguem comprando pela nossa competitividade — explicou Perosa, que embarca amanhã rumo aos Estados Unidos. A missão visa retomar o diálogo com autoridades e importadores americanos.
Critério norte-americano, rota mexicana
A escolha das plantas segue o mesmo critério adotado em 2023: apenas aquelas já habilitadas para os EUA podem ser avaliadas pelo México. Uma decisão influenciada pela relação geopolítica entre os dois países, que também reforça o papel do México como um possível hub exportador — recebendo carne brasileira e reexportando para mercados como Estados Unidos, Japão e outros países asiáticos.
Japão e China no radar
Além do México, há expectativa de abertura do mercado japonês até o final do ano. Segundo Perosa, o Japão importa cerca de 700 mil toneladas de carne por ano, com preços muito atrativos.
— A língua bovina, por exemplo, que vendemos a US$ 2/kg, pode ser comercializada por até US$ 15/kg no Japão. Isso muda completamente a rentabilidade da indústria — destacou ainda.
O Rio Grande do Sul está entre os primeiros estados cotados para serem incluídos na lista de plantas habilitadas quando o Japão oficializar a abertura.
Na China, maior destino atual da carne bovina brasileira, por outro lado, o cenário é de atenção. Apesar das investigações de salvaguarda em curso, prorrogadas, há sinalizações de que Pequim não pretende prejudicar o fluxo comercial com o Brasil, considerando sua própria necessidade de abastecimento.
— A China importa nosso dianteiro para uso industrial, não para competir com o produto local no varejo. Esse modelo de complementariedade tem funcionado bem e deve ser mantido — avaliou o presidente da Abiec.




