
Com o tarifaço americano já em campo, setores impactados pela medida, como o do agro, seguem buscando a adaptação. Ao mesmo tempo, reforçam a importância da continuidade das negociações. Para analisar o quadro atual e medidas adotadas, a coluna conversou com Leandro Gilio, professor do Insper Agro Globabl, doutor em Economia Aplicada. Confira trechos da entrevista abaixo. E a conversa completa no Campo e Lavoura da Rádio Gaúcha, a partir das 6h deste domingo (17).
Com o tarifaço implementado, qual o raio X deste momento?
É realmente um momento complicado. O tarifaço acabou pegando o Brasil e o setor um pouco de surpresa, porque quando as tarifas foram anunciadas, no começo do ano, o Brasil não era um foco. De repente, começou a ser, por uma questão mais política do que comercial em si. Se olhamos para dados de comércio, o Brasil não deveria ser taxado. Os Estados Unidos têm um superávit comercial, exceto para o agronegócio, que o Brasil tem um superávit comercial.
O que pode ter feito a diferença na definição dos itens da lista de exceção?
Foi um trabalho que envolveu tanto o lobby quanto uma questão estratégica dos próprios Estados Unidos. Por exemplo, 70% do suco de laranja que consomem vem do Brasil. Para o café, também se esperava alguma coisa, porque mais ou menos 30% do que consomem vem do Brasil também. Na verdade, o setor ainda espera alguma liberação do tipo. Se especula que venha a ser anunciado, se espera uma certa liberação do café, até porque o impacto de preço no mercado americano deve ser bastante relevante. Nas carnes, talvez seja uma questão estratégica dos EUA limitar um pouco essa penetração do Brasil, vínhamos ganhando bastante mercado.
É possível redirecionar, de forma a compensar a ausência dos EUA?
Não é tão simples, não é só redirecionar de um mercado para outro. No mercado de carnes, por exemplo, não temos habilitações para todos. Para a exportação, existem as condições sanitárias, até preferências. Os EUA consomem muito a parte dianteira do boi, nosso mercado interno mais a do traseiro. Mas quando os produtos são um pouco mais "comoditizados, digamos assim, é um pouquinho mais fácil.
Apesar das complexidades, a indústria de carne bovina tem batalhado novos mercados...
No momento, estamos em mercado bom para a carne internacionalmente. A demanda dos mercados asiáticos está aquecida. O Brasil abriu recentemente o Vietnã e tem também perspectivas. Se fala do Japão, da Coreia do Sul. Claro, são mercados mais exigentes, eventualmente é um produto diferenciado, mas existem possibilidades sendo abertas. E o próprio mercado interno que consome também, mais de 70, 80% da carne produzida.
Há itens muito expostos ao mercado americano, como o mel. Nesses casos o espaço a ser preenchido é grande..
E esses setores, às vezes, não são só muito expostos ao mercado americano, como também são segmentos menores. Que têm um pouco mais dificuldade de exportar e são de muito trabalho intensivo. Pescados, frutas... Acho que deve ser uma questão de preocupação bastante relevante até para o governo em trazer propostas, para poder amenizar um pouco a situação para o exportador e para o produtor. Foi anunciado um pacote de medidas com relação à contenção desses prejuízos, mas ainda faltam muitas especificidades serem anunciadas.
E as negociações com os EUA?
Acho que o Brasil não pode perder esse foco comercial de seguir negociando, tentar reverter isso. Não é muito uma questão comercial, é muito mais uma questão política. Então, se o Brasil conseguir voltar mais para a questão comercial e, de alguma maneira, negociando, reverter pelo menos para alguns setores que sejam chave. É essencial para a manutenção da vida para alguns setores. Como citamos, existem as possibilidades de redirecionamento, abertura de novos mercados. O governo se comprometeu com isso também, em acelerar aí processos, mas isso não é simples e nem todo mundo vai conseguir direcionar a produção para outro mercado tão rapidamente. Então, o ideal mesmo é seguir negociando e tentar reverter essa situação.






