Um dos principais destaques da programação da 48ª Expointer, que começa neste sábado (30), é a final do Freio de Ouro — a competição mais tradicional da raça de cavalos crioulos. É quando o parque Assis Brasil, em Esteio, se transforma em uma verdadeira arena de torcida, reunindo competidores que investem pesado em genética, treinamento e técnica ao longo de um circuito que movimenta toda a economia do setor. Neste ano, Marcelo Moglia e seu filho Francisco, o Pancho, de apenas 16 anos, são dois dos ginetes que se enfrentarão na disputa marcada para o dia 6 de setembro. Sobre a competição e essa paixão que une gerações, falaram no último programa Campo e Lavoura, da Rádio Gaúcha. Ouça trechos da entrevista abaixo.
Marcelo (que, além de ginete, é criador), como é esse momento de preparação final dos animais que vão entrar em pista?
Marcelo: É uma vida de dedicação intensa. A nossa família trabalha há 80 anos com criação e seleção genética. Quando comecei a administrar, há mais de 30 anos, sempre fui fã do Freio de Ouro. Era um sonho, desde guri, chegar à grande final. Me criei na beira da pista, com aquele sonho de um dia estar ali dentro. A gente trabalhou para isso, investiu em genética. Fui para São Paulo aprender técnicas também. E aí comecei uma carreira aí. Em 2002, conquistei o Freio de Ouro e, depois, foram mais 13 títulos ao longo da carreira. E, enfim, estamos aí.
Neste ano, você vai competir de novo com o Jacinto Cala Bassa para a grande final. Cavalo que é uma grande estrela do plantel da Cabanha Cala Bassa, avaliado em R$ 22 milhões, uma cifra histórica da raça crioula. Por que exemplares se valorizam por meio do Freio de Ouro? O que faz um animal ter todo esse valor?
Marcelo: O Jacinto é realmente um cavalo muito especial. Ele é filho de dois animais que ganharam todos os grandes prêmios da raça. A mãe dele era uma super égua e o pai dele também, o Sedutor, e é um dos mais valorizados da raça crioula. Então, ao nascer, o Jacinto já tinha uma expectativa muito grande em cima dele. Na sua primeira saída, foi o reservado de Grande Campeão da Expointer. A expectativa numa criação é que a gente consiga produzir animais bonitos e que depois se confirmem nas pistas funcionais. No caso de Jacinto, é um cavalo muito jovem, com seis anos de idade, ainda tem muita disputa e freio para correr. É um cavalo que tem uma perspectiva muito boa pela frente, como pai também. Os filhos dele já estão se destacando muito.
Assim como a do Jacinto, há outras histórias que se multiplicam pelo interior do Estado de cavalos excepcionais. Francisco, tu estás com 16 anos, mas não é novato em pista, né? Conta um pouco como essa paixão pelo cavalo crioulo se transformou em profissão.
Francisco: Iniciei nas categorias de base, nos Freios Jovens. Desde os seis anos eu corro. Aos 13 anos, pedi para o meu pai correr o Freio de Ouro. Ele me falou que era uma missão que não era muito fácil. Mas eu topei e, agora, já é o meu quarto ciclo no Freio de Ouro. É muito bom correr ao lado do meu pai. Me dá mais confiança. Ele está sempre me ensinando.
Bom, tu tens irmãos também. Por que tu acha que foi em ti que aflorou essa continuidade da profissão de ginete?
Francisco: A gente brinca aqui em casa que praticamente eu nasci em cima de um cavalo. Nem lembro quando começou essa paixão. Sempre fui fascinado por cavalo.
Sei que, mesmo com os treinos, tu segues na escola. Conta como é essa rotina de preparação para um Freio de Ouro.
Meu pai trabalha com cavalo durante a semana, porque eu moro em Bagé e a estãncia fica a 60 quilômetros da cidade. Procuro vir todos os finais de semana. Mas o meu pai prepara os bichos durante a semana e aí, no final de semana, eu monto.
Imagino que seja um orgulho também pra ti, Marcelo, ter o filho em pista. Qual é a grande vantagem de ter garantido já o teu sucessor?
Marcelo: Eu tenho três filhos, o Joaquim, o Francisco e o Pedro. A gente é muito unido. Oss três guris gostam da estância, dos cavalos, são envolvidos. O Francisco optou pela parte da competição, seguiu mais ou menos meus passos. Mas a gente também tem o Redomão na Lagoa, há 17 anos, e os guris hoje ajudam a realizar o evento, então. Então, acho que a sucessão da cabanha vem deles gostarem, darem continuidade a isso. Apesar do Francisco estar competindo, os outros estão na pista ali, pelo lado de fora, torcendo, estão sempre envolvidos.
Marcelo, como a Expointer é vitrine também para vocês, criadores de cavalos crioulos?
Marcelo: É na Expointer que ocorre a prova máxima da raça crioula. Ali se desenvolveu uma grande prova que juntou uma feira, que é uma das maiores da América Latina e que tem um grande público. Hoje, temos uma pista coberta maravilhosa, profissional, com camarotes. Vem gente do Paraguai, da Argentina, do Uruguai, de todos os cantos do Brasil para assistir. É uma grande vitrine do cavalo crioulo, mostra todo o seu potencial.



