
Um dos segmentos mais representativos do Estado, o cooperativismo encontra no agronegócio a sua grande força motora. Conforme dados recém-divulgados, as cooperativas agropecuárias alcançaram em 2024 um faturamento de R$ 49,9 bilhões, representando um crescimento de 2,49%. Em entrevista ao Campo e Lavoura da Gaúcha neste domingo (6), Paulo Pires, presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS), detalhou como o setor conseguiu alcançar esse resultado positivo, mesmo diante de um ano desafiador.
O que ajudou a alcançar esse resultado?
As cooperativas agropecuárias do Rio Grande do Sul são mais industrializadas, principalmente as ligadas à proteína animal e a grão. As cooperativas de grãos, por exemplo, tiveram uma safra quase normal. Houve grande quebra devido à enchente, mas concentrada na região Sul, e lá não tem tanta expressão no cooperativismo gaúcho em termos de volume.
Em relação às cooperativas de proteína animal, o que ajudou a fazer esse resultado?
A questão que mais influenciou na proteína animal foi a queda no preço da soja e do milho. Baixou muito o preço pago ao produtor e o custo da indústria, mas o preço da carne, não. Com isso, a produção de carne ficou muito competitiva.
De que forma o endividamento que o produtor rural se encontra pode acabar refletindo no segmento das cooperativas agropecuárias?
A cooperativa agropecuária é uma organização de produtores. É imprescindível uma política pública de socorro ao produtor gaúcho. O produtor pode estar preparado para um, até dois anos de estiagem. Agora, três anos de estiagem e uma enchente, não há produtor no mundo que esteja preparado para isso. Então, o produtor gaúcho, diferente do produtor do resto do Brasil, precisa de um programa que alongue suas dívidas. Se não houver uma política pública específica, pode ter certeza que o Rio Grande vai ter redução de safra. Muitos produtores vão ficar pelo caminho e não vão conseguir plantar no ciclo 2025/2026.
Pois é, nesse sentido, qual é a urgência dessa solução a ser buscada?
Houve o entendimento de que o governo precisava fazer o anúncio do Plano Safra. Se nós tivéssemos qualquer decisão antes, nós poderíamos, essa era a alegação do governo, prejudicar o anúncio do Plano Safra. Mas agora o prazo está se esgotando. O plantio de milho começa no final de julho, início de agosto, no Rio Grande do Sul. É imprescindível, então, que nós tenhamos nos próximos dias a retomada dessa negociação e uma proposta de alongamento, que não seja a securitização, mas uma proposta de alongamento que permita que boa parte dos nossos produtores não fiquem negativados, ou seja, fiquem com condição de contrair crédito para fazer suas lavouras.
O que vocês projetam em termos de resultados para as cooperativas do agro em 2025?
Nós vamos ter uma redução na safra de inverno. Na canola, houve um aumento, mas é uma cultura ainda não tão importante como o trigo no inverno do Rio Grande do Sul. Ainda assim, hoje existem mais agentes, indústrias principalmente, trabalhando com a canola, o que é uma notícia boa, principalmente para as regiões mais quentes. A questão do milho, no nosso entender, vai aumentar a área, até porque no ano passado houve boa precificação e resultado positivo. E na soja nós dependemos muito dessa questão da renegociação das dívidas.