
A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
A forte chuva que atinge o Rio Grande do Sul desde o início de junho — e que se agravou nos últimos dias — expôs um problema estrutural no campo: a baixa cobertura de solo durante o período de inverno. Ao contrário da safra de verão, quando a área cultivada com grãos alcançou 8,5 milhões de hectares, segundo a Emater, neste período mais frio do ano a previsão é de apenas 1,8 milhão de hectares semeados.
Essa diferença deixa vastas áreas agrícolas descobertas e vulneráveis à ação da chuva. O que já era uma preocupação ambiental e produtiva ganha contornos mais visíveis diante do excesso de precipitação: imagens de lavouras alagadas e solos descobertos se multiplicam pelo interior do Estado, evidenciando os riscos de erosão, perda de nutrientes e soterramento de sementes.
Na avaliação de Luciano Schwerz, presidente da Emater, a ausência histórica de culturas de inverno em muitas propriedades representa não apenas uma perda de oportunidade econômica, mas também ambiental:
— Quando deixamos esse solo parado, estamos perdendo a chance de gerar renda e de melhorar a qualidade dos solos gaúchos.
Hamilton Jardim, diretor e coordenador da Comissão do Trigo e Culturas de Inverno da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), também observa que a cultura da soja, principal cultura do Estado cultivada no verão, deixa pouca palhada no solo, o que acentua os efeitos erosivos quando não há cobertura subsequente à colheita do grão.
— Em áreas que ficam ociosas, a chuva pode levar nutrientes, a camiada mais fértil do solo, matéria orgânica. Por isso, se defende que o solo tem que estar coberto o maior tempo possível dentro dos 365 dias do ano — acrescenta Jardim.