
A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Apenas 33,1% das áreas cultivadas com soja no Brasil têm acesso à internet 4G ou 5G. No Rio Grande do Sul, embora a cobertura supere a média nacional, ainda não chega à metade: é de 46,05%. Esses dados foram revelados por um estudo da ConectarAGRO em parceria com a Universidade Federal de Viçosa (UFV). Ana Helena Andrade, representante do AGCO no ConectarAGRO, comentouo os resultados no Campo e Lavoura da Gaúcha deste domingo (22). Confira trechos abaixo.
Como surgiu a ideia do levantamento?
O ConectarAGRO é uma associação criada para promover a conectividade nas áreas de produção agrícola. E o primeiro gargalo que a gente se deparou é o de que não havia indicadores mostrando qual era o percentual de pessoas conectadas na área rural. Havia índice de conectividade geral do país por Estado, estudos que misturavam cidades com área rural. Nós percebemos, então, que isso tornava difícil de se propor e trabalhar políticas públicas específicas. E, depois, a gente identificou também a oportunidade de trabalhar outros temas. Por exemplo, o indicador de conectividade rural na cultura da soja.
Imagino que a escolha se deu pela representatividade que a soja tem em termos de produção no Brasil.
Sim, exatamente. A soja é a principal cultura do nosso país. E também foi escolhida como a primeira cultura em função de nós já termos evidências de que a conectividade impacta a produtividade. Uma produção agropecuária conectada, em que o agricultor pode contatar uma máquina à distância e ter informações climáticas, sensores identificando onde é preciso aplicar defensivo e onde não é preciso, é mais produtiva.
Com relação a esse estudo, por que o Rio Grande do Sul é um dos Estados que está acima da média nacional?
Primeiro, a telecomunicação, por origem de modelo de negócio, vai cobrir onde há uma população maior. É uma concessão pública e a empresa que recebe essa concessão vai levar o serviço para a área que ela recebeu, priorizando onde tem mais gente para comprar planos de celular, o que não é o caso da área de produção agrícola. Esse foi o modelo de negócio desenvolvido e, obviamente, favorece e é muito aplicado em Estados onde existem grandes e planas propriedades. E aí, vindo para o Rio Grande do Sul, a topografia impacta muito a área de cobertura. Em uma mesma área plana que teria uma torre, por exemplo, numa área de montanhas e serras vai precisar de três, quatro torres. E o Rio Grande do Sul é caracterizado por propriedades não tão grandes. Mas há também pontos positivos, como a forte presença e liderança de cooperativas.
São essas cooperativas, muitas vezes, que conseguem levar esse acesso ao campo.
Exatamente, essas cooperativas têm que assumir um protagonismo de acelerar a chegada da telecomunicação nas propriedades. Assim como assumiram, no passado, o protagonismo de levar a mecanização e novas tecnologias, como tratores, colheitadeiras, pulverizadores, é o momento agora em que elas têm que assumir esse protagonismo e ofertar dentro do escopo de serviços oferecidos para o cooperado também o acesso à telecomunicação.
Como a indústria de máquinas lida com esse gargalo atualmente?
A conectividade é um gargalo básico para as máquinas agrícolas funcinarem. É como, para a indústria automotiva, não ter rua ou estrada, falando de veículos. A conectividade, a telecomunicação, é a estrada, a infraestrutura, pela qual a evolução tecnológica chega ao campo. E as empresas fabricantes de equipamentos que precisam dessa infraestrutura também buscam alternativas em conjunto com as empresas de telecomunicação.