
Cada levantamento da safra de grão do último verão, a partir de agora, só reforça as perdas deixadas pela estiagem, com eventuais revisões no detalhe. O quadro trazido pelo 9º levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) reafirma que o principal produto da estação, a soja, foi o que sofreu o maior impacto do tempo seco. As 14,28 milhões de toneladas colhidas representam recuo de 27,3% em relação à produção passada.
Esse resultado contribuiu de forma significativa para que o Rio Grande do Sul feche o ciclo 2024/205 na contramão do Brasil, que conforme a mesma estimativa, produzirá recordes de 336,1 milhões de toneladas de grãos.
O olhar para os produtos de inverno, que estão em período de plantio, traz a perspectiva de uma colheita maior do que a última. As 5,36 milhões de toneladas projetadas para a estação representam alta de 5,6% na comparação com o ano passado.
Há de se fazer a ressalva de que ainda há muito pela frente, visto que o ciclo está apenas começando. O plantio de trigo, principal cultura de inverno, chegou nesta semana a 12% da área total estimada para o cereal, segundo levantamento da Emater.
Entre os pontos de atenção em relação ao resultado projetado está, por exemplo, o tamanho da área a ser, de fato, cultivada. Os protestos de agricultores que seguem nas estradas mostram que o passivo deixado pela sequência de problemas climáticos segue como grande preocupação. Com dívidas vencidas ou por vencer, há quem já fale em não ter condições de fazer o plantio de inverno.
Até o momento, não há sinalização de que o pedido de securitização avançará junto ao governo federal. O próprio ministro chefe da Casa Civil, Rui Costa, disse isso durante passagem pelo Estado.
A prorrogação autorizada no final de maio é limitada aos agricultores que têm financiamentos com juro controlado (quando há subvenção da União), o que restringe o alcance da medida.
Com o objetivo de manter adimplentes os produtores, a Federação da Agricultura do Estado (Farsul), após reunião com instituições financeiras, encaminhou pedido para que todas as operações sejam prorrogadas por 90 dias.
Antônio da Luz, economista-chefe da Farsul, acrescenta que esse prazo daria "mais tempo para buscar uma solução mais estrutural".
A entidade reiterou o apoio ao Projeto de Lei 320/2025, do senador Luiz Carlos Heinze, que propõe a securitização das dívidas de produtores rurais impactados por eventos climáticos adversos a partir de 2021. Ao mesmo tempo, trabalha na proposta para ser executada dentro do Governo, com o uso dos recursos do Fundo Social.