
A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
O conflito no Oriente Médio, acirrado depois do bombardeio dos Estados Unidos ao Irã, volta a expor um gargalo da produção agrícola brasileira, que é a sua dependência por fertilizantes de fabricação estrangeira.
Na guerra entre Rússia e Ucrânia, o entrave internacional já havia impactado a oferta do insumo, refletindo também nos seus custos. Agora, volta a ganhar holofote diante da relevância dos países envolvidos. O Irã é o terceiro maior exportador do insumo no mundo. Já o Brasil, do lado da demanda, importa cerca de 85% dos fertilizantes que consome.
Mesmo com a imprevisibilidade em relação aos desdobramentos do conflito, o seu efeito já é visto como certo na agricultura brasileira. Ainda que se busquem outros mercados fornecedores, todos os demais grandes players são situados na mesma região.
Sérgio Leusin Júnior, pesquisador do Departamento de Economia e Estatística da Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (DEE/SPGG), cita que o cenário reforça a importância de diversificação de fornecedores e de estoques.
— Israel é o oitavo principal fornecedor de adubos e fertilizantes ao Brasil, representando 3,5% do valor total. Somado ao comércio com outros países do Oriente Médio potencialmente afetados por um conflito regional, como Omã (3,5%), Arábia Saudita (3,3%), Egito (3,0%), Catar (2,8%) entre outros, percebe-se que mais de 17% das importações brasileiras de fertilizantes vêm de uma área geopoliticamente sensível — situa o pesquisador.
Assessor de relações internacionais da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Renan Hein dos Santos diz que a mensagem ao produtor é para que tenham "plano A e plano B", para caso a guerra se agrave.
— É tudo muito volátil ainda, mas, para o produtor, já significa um momento de muita atenção no planejamento das compras — recomenda o assessor.
Horas após a escalada da tensão, o preço da ureia já mostrava alta de 20% no mercado mundial - de US$ 360 a tonelada no dia 12 para US$ 431 a tonelada no dia 20. Considerando somente a agricultura gaúcha, em que o peso dos fertilizantes pode representar até 40% do custo da lavoura a depender da cultura, uma disparada tão expressiva em insumos essenciais pode significar um grande aperto nas contas.
A participação dos fertilizantes em cada cultura:
- Soja: 21%*
- Milho: 27%*
- Trigo: 20%*
- Arroz 13% em Uruguaiana
- Arroz 15% em Camaquã
* Percentuais da safra 24/25, adotando Carazinho (RS) como referência.
Fonte: Projeto Campo Futuro
Outro ponto de alerta mencionado pelo assessor da Farsul é que, mesmo antes da guerra, já havia uma instabilidade colocada na logística global. O atraso nos principais portos do mundo cresceu 300% em junho. Uma guerra nesta dimensão, portanto, levará a um quadro ainda mais delicado no que se refere a fretes e combustíveis, fatores que tornam a condição nos fertilizantes ainda mais sensível.