A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
O preço do arroz, que atualmente está em queda para o produtor, pode se tornar um problema também para o consumidor mais adiante. A Federação das Associações de Arrozeiros do Estado (Federarroz-RS) alertou à coluna que a desvalorização do grão pode desestimular os agricultores, levando à redução da área plantada e, consequentemente, afetando a oferta do produto no mercado.
— Abalados, os produtores poderão, na próxima safra, reduzir muito a área plantada com arroz, e o preço do cereal, portanto, poderá voltar a subir a patamares como o da pandemia (quando memes sobre o aumento do preço do arroz viralizaram) — esclareceu Alexandre Velho, presidente da Federarroz-RS.
Em um ano, a queda no valor da saca de 50 quilos do cereal chega a 41,3%, conforme dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, apresentados no gráfico acima.
O cenário de agora, no entanto, começou a ser desenhado desde a enchente do ano passado, continua o dirigente. Na época, o governo federal anunciou medidas, como a importação, para garantir o abastecimento de arroz no mercado interno, em meio à notícia da cheia no Rio Grande do Sul, que responde por 70% da produção nacional de arroz. Com receio de que se faltasse o alimento, o preço do cereal cresceu em mercados do Mercosul e até asiáticos.
— Aquele preço muito alto provocou um aumento generalizado na área que acabamos de colher agora — contextualiza Velho.
A estiagem e a enchente, que reduziram a produtividade da soja nos últimos anos, também influenciaram os produtores a optarem com mais firmeza pelo plantio do cereal nesta safra.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que a área plantada com o cereal no Brasil neste ano tenha alcançado 1,7 milhão de hectares, número 6,9% maior se comparado com o ano passado. Em volume, a perspectiva é de safra recorde, de 12,1 milhões de toneladas — aumento de 14,3% frente a 2024.
— Agora, o preço pago ao produtor (R$ 66,61 a saca de 50 quilos no último dia 11) não paga nem o custo de produção, que está em R$ 80 a saca. Isso poderá trazer desestímulo e endividamento ao produtor — se preocupa Velho.
A Federarroz-RS é uma das entidades do setor produtivo que vem negociando, junto ao governo federal, medidas para conter a trajetória de redução do valor da saca do cereal.