A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.

É "com lupa" que o governo do Estado iniciou o monitoramento de uma espécie de abelha invasora na fronteira com o Uruguai. Conhecida como mamangava europeia (ou Bombus terrestris), a espécie é considerada uma ameaça ao território gaúcho por não ser nativa da região.
— Estamos retomando o monitoramento dez anos após o alerta inicial para verificar se a espécie cruzou a fronteira. Nosso principal objetivo é conhecer o estado atual das populações nativas (de mamangavas) e agir preventivamente — esclareceu Sidia Witter, coordenadora da pesquisa do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária (DDPA), da Secretaria Estadual da Agricultura.
Introduzida originalmente no Chile para polinizar tomates em estufas, a Bombus terrestris escapou para a natureza e rapidamente expandiu sua área de ocupação até alcançar a Argentina. Um estudo realizado pela Universidade de São Paulo (USP) em 2015 já alertava para a possibilidade da espécie invadir o Brasil por oito municípios fronteiriços com o Uruguai — entre eles, Aceguá, Pedras Altas e Santa Vitória do Palmar — agora foco do monitoramento.
Apesar de ser uma eficiente polinizadora de culturas como leguminosas — não é produtora de mel —, a mamangava europeia é considerada uma ameaça por competir por recursos com as espécies nativas — na região, há três delas —, transmitir doenças e causar impactos negativos na biodiversidade.
— Em países como Chile, Argentina, Japão e Nova Zelândia, onde foi introduzida, a espécie causou declínio de mamangavas locais e alterou a polinização de plantas nativas e agrícolas — acrescenta Sidia.
Trabalho de monitoramento
Intitulado “Status das espécies de mamangavas nativas (Bombus) em áreas suscetíveis à invasão de Bombus terrestris na fronteira Brasil-Uruguai”, o estudo iniciado agora prevê a captura de mamangava ao longo de um ano em três áreas principais, nos municípios de Aceguá, Pedras Altas e Santa Vitória do Palmar.
Para auxiliar no levantamento, uma área experimental foi implantada na estação de pesquisa de Hulha Negra, onde serão cultivadas leguminosas como feijão, ervilhaca e cornichão. O objetivo é manter flores disponíveis o ano todo, atraindo as mamangavas nativas
— Queremos propor estratégias de conservação baseadas em evidências, como a criação de corredores ecológicos em áreas agrícolas, tornando-as ambientes amigáveis para os polinizadores nativos — diz ainda a pesquisadora.
Atenção
Em caso de identificação da abelha invasora, o DDPA orienta que ela não seja morta. Em vez disso, os cidadãos devem enviar foto com coordenadas geográficas para o e-mail: museu.ento.rgc@gmail.com.
— A principal característica é a parte final do abdomem com muitos pelos brancos — descreve Sidia.
Aliás
A legislação brasileira e estadual proíbe a introdução de espécies exóticas invasoras como a Bombus terrestris, que, diferentemente da abelha africanizada (já adaptada e domesticada no Brasil), representa uma ameaça direta às nativas.