
É de olho na entrada em mercados onde não entra que o Rio Grande do Sul – assim como Paraná, Acre, Rondônia e parte do Amazonas e do Mato Grosso – caminhou em direção ao novo status sanitário da aftosa. A condição de zona livre da doença, exclusiva de Santa Catarina, será confirmada hoje pela Organização Mundial da Saúde Animal (OIE), que dá o reconhecimento internacional – o nacional, do Ministério da Agricultura, foi concedido em agosto do ano passado.
São duas décadas desde o último foco da doença, período em que a ausência da circulação viral foi sistematicamente comprovada por meio de análises sorológicas e em que as estruturas de defesa sanitária evoluíram, como o mundo.
– A gente tinha só seis celulares na época de Joia. Não existia WhatsApp – lembra o veterinário Fernando Groff, que atuou no controle do foco no município, hoje chefe da Divisão Sanitária Animal da secretaria.
Entre a primeira suspeita da doença detectada por um produtor e a confirmação do Ministério da Agricultura se passou quase um mês. E quando trata-se de um vírus, o tempo é um componente crucial.
– O conhecimento técnico que se tinha era muito menor. Hoje, há elementos muito diferentes e isso faz com que a esperança seja favorável – avalia Luiz Alberto Pitta Pinheiro, assessor técnico da Federação da Agricultura do Estado, também testemunha dos focos registrados em 2000 e 2001.
Chefe do Departamento de Defesa Agropecuária da Secretaria da Agricultura, Rosane Collares reforça que o reconhecimento de hoje consolida o trabalho de muitos anos de toda a equipe da pasta, do veterinário ao administrador. E que faz crescer a responsabilidade:
– Quando se substitui a vacina, que é uma ferramenta, precisamos aumentar as outras ferramentas. Uma delas é a vigilância, que é aumentada no momento em que precisa suprir a ação da vacina.
As expectativas de ganhos são altas – R$ 1,2 bilhão. Mas será preciso seguir trabalhando para chegar lá. A certificação põe fim a uma longa espera e merece ser celebrada. Mas sozinha não dá acesso imediato. Faz as vezes do passaporte: não dá passagem automática, mas sem não dá nem para ir para o aeroporto.
– Uma coisa é ter a condição, outra é conquistar o mercado — pondera Pitta Pinheiro.