
A operação que estourou a fraude dos combustíveis teve como efeito colateral a vazão do metanol para adulteração de bebidas. A falha de fiscalização e as medidas para combater o crime foram pautas da entrevista do Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, com o superintendente de Fiscalização do Abastecimento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Julio Nishida.
De onde veio esse metanol?
Todo o metanol que existe no país vem do Exterior. O Brasil não produz há 20 anos. Receita Federal e ANP são anuentes das licenças de importação do produto, que é matéria-prima lícita na fabricação de plásticos, tintas, solventes e biocombustíveis. Ao que tudo indica, a adulteração não ocorreu na destilação, mas diretamente no etanol.

Quem tem que fiscalizar?
A ANP fiscaliza o posto e a Vigilância Sanitária fiscaliza a fábrica. As duas cadeias foram fraudadas. Infelizmente, existe um número muito grande de fábricas clandestinas de pequeno porte, que usam vários tipos de produtos com vários tipos de origem, e temos encontrado confluência das fraudes nessas duas cadeias, de combustíveis com destilarias.
E o que tem que fazer para evitar?
A Vigilância Sanitária tem que controlar a fabricação de bebidas para evitar clandestinidade. O metanol é o produto mais tóxico possível, mas há outros contaminantes. E também tem que haver um controle forte da ANP para evitar que o produto seja desviado para a cadeia de combustíveis.
Os fraudadores das bebidas sabiam que estavam pegando etanol adulterado com metanol no posto?
É o fraudador sendo fraudado. A fábrica clandestina de bebida não sabe que está comprando etanol contaminado com metanol, porque não quer matar o cliente. Mas o intermediário, que está fornecendo o produto contaminado, sabe da fraude. Estamos agindo para quebrar essa cadeia.
Por que se deixou chegar a este ponto de pessoas morrendo ou com sequelas?
É mais difícil detectar quando as fábricas clandestinas compravam o produto no posto. Qual o aprendizado? Além da investigação imediata, estamos trabalhando na mudança de regras de comércio exterior para deixar o controle mais rigoroso, mesmo que amplie a burocracia. Temos que entrar em setores que não olhamos, como a indústria de bebidas. Estamos estudando ferramentas de rastreio. Vai mudar? Precisa e, sim, vai mudar. Temos que pensar em medidas de médio e longo prazo para que isso não aconteça nunca mais.
E até lá o que o consumidor faz?
Em relação às bebidas, seguir as orientações da Anvisa. Para combustíveis, as principais são: pedir nota fiscal e cuidar com preços, que não controlamos, mas chamam a atenção quando são muito baixos porque não existe almoço grátis. O site da ANP tem o Consulta Posto Web, que mostra se o posto está regular. E qualquer denúncia deve ser feita pelo telefone 0800 970 0267.
Ouça a entrevista completa:
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Isadora Terra (isadora.terra@zerohora.com.br) e Diogo Duarte (diogo.duarte@zerohora.com.br)



