Já subiu de 9% para 25% o tanto da área da safra de verão usada também para plantios de inverno no Rio Grande do Sul desde que foi lançado o Programa Duas Safras, em 2022, exatamente com este objetivo. Quando chegar aos 45% previstos, se adicionará R$ 37 bilhões à economia gaúcha, conforme cálculo apresentado pelo chefe-geral da Embrapa Trigo, Jorge Lemainski, no painel Campo em Debate sobre "Culturas de inverno e biocombustíveis", realizado nesta segunda-feira (1º), na Casa RBS na Expointer.
O grande impulsionador desta retomada no plantio de trigo, além do cultivo de cevada, centeio, aveia e triticale — é o produtor ter maior garantia de venda com preços melhores, espaço que se cria com os biocombustíveis, concordaram os painelistas. Triticale, por exemplo, é um cruzamento resistente entre trigo e centeio. Seu alto teor de amido garante elevado índice de conversão para etanol, combustível renovável que a Be8 - líder em biodiesel - fabricará na sua indústria em construção no norte gaúcho. Segundo o CEO Erasmo Battistella, a operação exigirá até 200 mil hectares de cultivo de cereal.
— Entre os desafios, o Brasil precisa ser mais competitivo, a matéria-prima tem que buscar certificações de rastreabilidade e o empresário buscar mercado externo além do interno — disse o empresário.
Sobre o crédito para os projetos, o presidente do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), Ranolfo Vieira Júnior, ressalta que, embora a taxa Selic a 15% ao ano deixe o financiamento difícil, está se buscando alternativas, inclusive com fontes internacionais. A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) tem linhas com juro de 6% ao ano, embora deva liberá-las ao Sul somente a partir de 2026.
— Mas podemos fazer um "blend" conforme a necessidade da empresa, analisando caso a caso — disse sobre a combinação de fontes de crédito, em uma analogia à mistura de ingredientes na gastronomia.
Na toada dos biocombustíveis, o presidente da Cotrijal, Nei Mânica, destacou o Soli3, projeto de R$ 1,25 bilhão junto com as cooperativas Cotripal e Cotrisal para construir uma fábrica de biodiesel em Cruz Alta. O preço de compra da soja será o de mercado, mas o projeto reduz custos na cadeia produtiva.
— Não gastará tanto com transporte e armazenagem. Se cortar etapas de custo, agrega valor — pontuou.
O custo gigante por não termos ferrovias boas e suficientes deu o tom do encerramento do painel. A coluna já percebeu que os catarinenses estão provocando este debate com mais afinco do que os gaúchos, o que se confirmou na fala do presidente da Organização das Cooperativas de Santa Catarina (Ocesc), Vanir Zanatta. Um grupo está se reunindo periodicamente para discutir o assunto, já com articulação com o governo catarinense.
— Ferrovias são uma necessidade — complementando que o sistema cooperativo ajudou a pagar um projeto para a vinda da ferrovia de São Paulo até Chapecó — É viável, mas precisa de dinheiro.






