
Estatal de chips que o governo federal quer reativar em Porto Alegre, a fábrica Ceitec (Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada) alinhavou uma parceria com duas empresas chinesas de semicondutores, que podem turbinar a retomada da fabricante gaúcha, que chegou a ter sua extinção encaminhada. Já de volta ao Brasil, o presidente Augusto Gadelha detalhou o acerto ao podcast Nossa Economia, de GZH.
Como foi a viagem à China?
Foi consequência de uma aproximação que o governo brasileiro tem feito com o da China. Estive lá há um mês acompanhando o ministro-chefe da Casa Civil (Rui Costa), quando foram feitos contatos com empresas e duas nos chamaram a atenção. A Sanan é uma das maiores de semicondutores e a GPT (Global Power Technology) tem uma ação única dentro da tecnologia que queremos implantar aqui na Ceitec. Já no Brasil, recebi o convite para voltar e visitar as fábricas, e fizemos agora alguns acertos.
Quais?
Um memorando de entendimento, pelo qual verificamos o interesse mútuo. Nosso pela tecnologia que vão nos oferecer e deles por ingressar no mercado brasileiro e produzir dentro do país. A área de semicondutores é extremamente complexa e cara. Precisamos da parceria com uma grande empresa que tenha domínio da tecnologia que queremos.
O carbeto de silício?
Sim, semicondutores de potência que suportam correntes, tensões e voltagens elétricas elevadas. São necessários neste momento em que você tem energia solar, eólica e uma indústria automotiva elétrica crescendo muito no mundo. Você precisa destes chips para recarga rápida de carro, por exemplo.
A Ceitec tem potencial para isso?
A dimensão é ainda incompatível com a produção destes semicondutores, mas estamos no início do desenvolvimento desta tecnologia no mundo. Ao contrário do silício, no qual pegamos o bonde atrasado, agora no carbeto, o bonde está chegando no ponto e vamos pegá-lo junto com o resto do mundo.

Por que a China fabricaria aqui e não exportaria para cá?
Temos várias vantagens fiscais dadas pelo governo brasileiro na fabricação aqui, além de recursos humanos qualificados. Vamos pegar, por exemplo, a BYD, que começou a fabricar carros aqui e poderá se fornecer esses semicondutores a eles.
Quando o memorando terá efeito prático?
Com ele, temos um compromisso formal entre as empresas para fazer um plano de negócios e aí definir os investimentos de parte a parte, o que cada um contribuirá nesta parceria. Semicondutores são muito regulamentados. Sabemos, por exemplo, que os Estados Unidos proíbem a exportação de certas tecnologias para outros países, inclusive a China, que também tem regras estratégicas. Tudo isso será discutido.
O governo federal projetou venda de chips da Ceitec ainda em 2026. Será possível?
Estamos vendendo o semicondutor de silício, que já produzíamos para identificação por radiofrequências (RFID), usadas nas tags de automóvel para abrir cancelas, acompanhamento de animais no pasto e nas etiquetas de lojas, por exemplo. Mas no caso do carbeto de silício, em lugar algum do mundo, se consegue produzir e vender em menos de três anos.
Venderiam para BYD e GWM, por exemplo? As montadoras chinesas que instalam fábricas no Brasil.
É algo que eu acredito, mas temos que negociar para saber se as empresas terão interesse. Vamos explorar este canal.
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