
Os dois principais clubes gaúchos, Grêmio e Inter, tiveram aumento de 16% na receita bruta total entre 2021 e 2024, mas com elevação de 20% do endividamento líquido no mesmo período. A consultoria EY (Ernst & Young) atualizou o seu tradicional comparativo anual entre os times, separando o recorte daqui para a coluna. Confira dados abaixo, a entrevista do podcast Nossa Economia, de GZH, com o diretor-executivo de Esporte e Entretenimento da EY, Pedro Daniel.
Números de 2024
Receita bruta: R$ 1 bilhão
- Grêmio R$ 513 milhões
- Inter R$ 517 milhões
Receita com Direitos de Transmissão e Premiações: R$ 321 milhões
- Grêmio R$ 179 milhões
- Inter R$ 142 milhões
Receita com Matchday (obtida em dias de jogo): R$ 216 milhões
- Grêmio R$ 111 milhões
- Inter R$ 105 milhões
Receita com transferência de atletas: R$ 285 milhões
- Grêmio R$ 106 milhões
- Inter R$ 178 milhões
Receita comercial: R$ 187 milhões
- Grêmio R$ 99 milhões
- Inter R$ 88 milhões
Endividamento líquido ajustado: R$ 1,2 bilhão
- Grêmio R$ 584 milhões
- Inter R$ 653 milhões
Despesa com folha do futebol profissional masculino: R$ 589 milhões
Endividamento tributário: R$ 415 milhões
Endividamento bancário: R$ 288 milhões
Diretor-executivo de Esporte e Entretenimento da EY, Pedro Daniel:
Está alto o endividamento dos clubes gaúchos, não?
Exato. Até é proporcional ao crescimento, mas precisamos lembrar que Grêmio e Inter são associações sem fins lucrativos. Em tese, o lucro é revertido para a operação. Não há distribuição de dividendos. É importante ver se o endividamento é equalizado para o tamanho do clube. Dever R$ 10 mil no banco é muito para quem ganha o mínimo, mas está equalizado se o salário é R$ 1 milhão. A relação endividamento/receita é mais preocupante do que o tamanho do endividamento.
Mas, pegando os dois clubes, é um endividamento de R$ 1,2 bilhão para R$ 1 bilhão de receita bruta em 2024. Toda a receita, sem os custos, não pagaria a dívida.
É, mas existe o que se chama de dívida saudável, para investimento, como um financiamento para comprar um imóvel. Está equalizado em uma linha do tempo na qual se consegue pagar de maneira parcelada. Importante olhar o perfil da dívida.
O endividamento tributário de R$ 415 milhões não é alto?
Está elevado e é preocupante. E o Inter responde por pouco mais e R$ 300 milhões. Lembremos que existe o Profut (Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro, do governo federal), entre outros "refis", nos quais há alongamento da dívida. O mais preocupante é o endividamento bancário.
Que tem juro elevado.
Além disso, as garantias e a exposição são diferentes. É a dívida que chamamos de onerosa, bem preocupante. Ambos estão com exposição elevada, sendo que o Inter tem um pouco mais, com R$ 188 milhões dos R$ 288 milhões. Mas a do Grêmio não é desconsiderável. Leva a um problema de fluxo de caixa do dia a dia, sinalizando que o clube talvez não consiga honrar os compromissos com a receita.
A despesa de R$ 589 milhões com folha de pagamento está dividida de forma equilibrada?
Ambos gastaram parecido. Tem o operacional, com salário e direito de imagem, e o investimento em atletas. O Inter, por exemplo, investiu mais no ano passado do que o Grêmio, mas ambos aumentaram a folha em relação ao ano anterior.
Como está a evolução de ambos nos últimos anos?
Temos uma base histórica de 15 anos. O Grêmio teve um rebaixamento, o que impacta o gráfico de cinco anos, com crescimento recente proporcional muito elevado em cima de uma queda grande de receita na segunda divisão. O Luis Suárez trouxe evolução de receita comercial muito grande. No ano passado, estagnou e provavelmente 2025 será mais desafiador porque não tem novidade em termos de receita. Com novos contratos televisivos e SAF (Sociedade Anônima de Futebol), é provável que o Grêmio não tenha a mesma força de investimentos comparado com os principais clubes brasileiros. Já o Inter, ele teve um "plus" em receita, porque fechou com a LFU (Liga Forte União) venda de parte dos direitos de imagem dos próximos 50 anos para um grupo investidor, ficou com mais dinheiro em caixa. A partir de 2025, será o primeiro ano do novo contrato. Talvez no médio prazo, o Inter tenha que buscar mais alternativas para manter a competitividade.
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