
Assunto recorrente, a abordagem de turistas para venda de cotas de imóveis voltou a piorar na Região das Hortênsias, especialmente nas movimentadas Canela e Gramado. A coluna recebe ondas de relatos dos leitores periodicamente, especialmente quando se aproxima a alta temporada de inverno. Na última semana, porém, recebeu reclamações também de comerciantes, que estão apreensivos que esta postura dos empreendimentos imobiliários afastará os turistas das duas cidades.
"Crescemos por décadas com a imagem de cidades acolhedoras e agora tratamos os turistas assim? Eles não virão mais, ficam bravos com razão.", disse um comerciante. Outra lojista ampliou o debate: "É mais um ponto que precisamos refletir. Estamos fugindo da nossa essência, não só nessa abordagem para venda de multipropriedade, mas no que estamos transformando a visita do turista." E um terceiro: "Isso é feito por especuladores imobiliários que não se preocupam com o que será da região no longo prazo, se o turista virá, se os negócios vão continuar existindo."
Presidente da Associação Comercial e Industrial de Canela (ACIC Canela), Maurício Boniatti foi claro ao dizer para a coluna que a entidade é contrária à forma como estão sendo abordados os turistas. Inclusive, a posição é pública e foi colocada em audiência pública sobre o assunto realizada na semana passada.
A venda de fração de imóveis é chamada de multipropriedade, na qual dezenas de pessoas chegam a ser donas, por exemplo, de um único apartamento. Elas têm o direito de usar durante alguns dias do ano e dividem custos. Embora criticado do ponto de vista financeiro e de investimento, o modelo é permitido por lei nacional.
O que não pode é a abordagem da forma como é relatada por turistas e comerciantes. As pessoas são puxadas da rua para dentro de locais, com uma publicidade agressiva, oferta de bebida alcoólica e promessa de jantares, com pressão para que assinem rapidamente contratos de compra.
O promotor de Justiça Max Roberto Guazzelli já disse que a prática fere o próprio Código de Defesa do Consumidor (ouça a entrevista ao podcast Nossa Economia ainda em 2022). Segundo ele, as empresas imobiliárias assinam termos de ajustamento de conduta (os chamados TACs) para o CNPJ de determinado empreendimento. Quando fazem outro, voltam a agir da mesma forma.
Há ainda legislação local que proíbe a abordagem na rua, permitindo que ocorra somente nos próprios estabelecimentos das donas dos imóveis. Porém, talvez pelo juro alto ter freado o mercado imobiliário e subido a inadimplência, as ações na rua voltaram, inclusive no entorno da catedral símbolo de Canela. Além disso, estão sendo colocados vendedores das multipropriedades dentro de outros estabelecimentos comerciais, até mesmo lojas de chocolate.
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Diogo Duarte (diogo.duarte@zerohora.com.br)
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