
A vantagem (ou não) de um consórcio para comprar imóvel ou veículo é pergunta frequente do leitores da coluna. Em tempos de juro em elevação no país, a modalidade aparentemente ganha atratividade em relação ao financiamento. Porém, cuidado com a inflação, que corrige as prestações. O alerta é da planejadora financeira Paula Bazzo, head de educação da SuperRico. Confira abaixo trechos da entrevista ao programa Acerto de Contas, da Rádio Gaúcha, e assista à íntegra no vídeo:
Consórcio vale a pena?
Não tenho preconceito contra modalidades de oferta de créditos. Alternativas são interessantes a depender da família e levando em conta o cenário econômico de fato. Por quê? Quando há uma alta de taxa de juros, que é o que estamos vivendo agora, por consequência, temos um aumento nas taxas de administração, de fundo de reserva dos consórcios. E a gente tem um agravante nesse momento que é a inflação ainda sofrer as consequências pós-pandemia e da guerra na Ucrânia. Qual é o grande impacto no consórcio? Quando a gente compra um consórcio, teremos uma correção anual da carta de crédito pela inflação, no imóvel e no carro. O índice depende da empresa. Tenho que levar isso em consideração, pois estou contratando uma dívida que tem cinco, 10 ou 20 anos. Com uma inflação alta, o custo se torna expressivo ao final do contrato.
Tem o reajuste da prestação e da carta também. Mas se a pessoa já foi contemplada, ela tem o reajuste da parcela do consórcio...
Exatamente. Pode se tornar uma dívida com variável significativa. Quando a gente tem uma inflação na meta do Banco Central, não há risco maior. O problema é o que estamos vivendo agora. É passageiro, o Banco Central está fazendo as intervenções, mas levará um tempo. Então, se existe a possibilidade de postergar um pouco o plano, por que não usar o valor que você já estaria disposto a desembolsar por uma carta de crédito para começar a investir neste momento de juro alto? Daqui a pouco, você percebe uma estabilidade novamente da economia e compra a carta de crédito, com dinheiro para dar um lance lá para frente.
Veja em vídeo:
Ou até mesmo usar o dinheiro para dar uma entrada no imóvel e fazer um consórcio de menor valor.
Exato. Aí, a prestação fica mais interessante, inclusive, para o fluxo de caixa da pessoa, da família.
A taxa de administração pesa muito no consórcio. Qual é a média cobrada hoje?
No consórcio imobiliário, giram entre 18% e 23%. De veículos, em torno de 16% a 18%. Porém, eu reitero a questão da inflação. Entendo que a coisa mais grave neste momento é a correção das prestações.
Compromete a capacidade de pagamento das famílias, que talvez não consigam projetar se conseguirão quitá-las daqui um ano.
Exato. Nem sempre a renda vai acompanhar na mesma velocidade a correção dos produtos. A gente vê no supermercado, os produtos estão ficando mais caros. Nem sempre o trabalhador tem a correção no salário. Às vezes, vão levar dois, três anos até igualar o poder de compra. Então, a gente tem que sacrificar alguma parte de consumo, fazer escolhas de qualidade de produtos, para conseguir honrar um compromisso maior, que é um imóvel, um veículo.
Como funciona o lance embutido da carta de consórcio?
Vamos supor que você precise de uma carta de crédito de R$ 300 mil, mas não tem dinheiro para dar um lance no total que gostaria. Você pode comprar uma carta de crédito em um valor maior, por exemplo, R$ 400 mil, e R$ 100 mil desse valor você usa como lance, junto com o que também terá que dar em dinheiro. Se você for contemplado, ao invés de ter a carta de R$ 400 mil, você receberá R$ 300 mil, porque de R$ 100 mil você abriu mão para dar como lance. Só que incidirá uma taxa de administração maior. Se estou pegando R$ 300 mil, índice de 20%, estamos falando de R$ 60 mil. Se pegamos R$ 400 mil, estamos falando de R$ 80 mil.
Comprar carta contemplada é uma boa opção?
Tem que se ter muita cautela. Não tem uma resposta pronta. Geralmente, você já tem que desembolsar um valor significativo para conseguir pegar uma carta contemplada. Talvez valha mais a pena um financiamento.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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