A pandemia do coronavírus veio e adiou o plano do Banco Central de interromper os cortes da taxa de juro Selic, que é a referência da economia brasileira. Para estimular o crédito, novas reduções têm sido feitas e são ainda mais intensas do que as anteriores. Com a economia sangrando a segunda deflação consecutiva divulgada hoje, tudo indica que teremos na semana que vem mais um corte de 0,75 ponto percentual na reunião do Comitê de Política Monetária. Cair vai, só há algumas divergências sobre a magnitude da redução.
Acrescentando a redução dos depósitos compulsórios, o mercado não tinha saída e reduziu também os juros para pessoas físicas e jurídicas. Ainda no início de maio, minutos após a decisão do Copom ter sido divulgada, os bancos começaram a disparar comunicados avisando do corte nas taxas. Agora, isso apareceu também na pesquisa da Associação Nacional de Executivos de Finanças (Anefac). Todas as operações de crédito, para consumidores e empresas, tiveram recuo pelo segundo mês consecutivo em maio.
Sim, a coluna sabe que ainda são taxas altas, bem superiores à Selic. Também concorda que há uma caixa preta sobre o tal do risco que os bancos dizem formar esse juro tão alto para o cliente. E compreende ainda que está difícil pegar crédito agora por mais que o governo federal siga anunciando linhas emergenciais, já que os bancos estão reprovando bastante as solicitações e atribuem isso ao receio de não receber os pagamentos. O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse já que colocaria até o pipoqueiro dar liquidez e combater o "empoçamento" do crédito.
Mas e daqui para a frente? As projeções são opostas. Enquanto é praticamente certo que a Selic cairá e já se fala em juro zero no Brasil, a Anefac avisa que a taxa subirá para quem toma o crédito. Diretor-executivo de estudos e pesquisas da entidade que reúne executivos de finanças, Miguel José Ribeiro de Oliveira é quem explica o alerta:
- Por causa da piora do cenário econômico com maior risco de crédito e da elevação da inadimplência.
E o executivo aproveita para dizer que o Banco Central até pode amenizar a alta:
- Se houver a redução de impostos, compulsórios e reduções da Selic.
Na prática mesmo, tem gente que está usufruindo de redução do juro. São aqueles com histórico de bons pagadores, oficial ou não. Esses viraram clientes de ouro para os bancos e outras financeiras, já que são garantia de pagamento. Ainda mais se o crédito está vinculado à venda - ou não - de determinado produto. Para esses, o momento é ótimo para se dar bem em uma negociação.
Claro que - e a coluna também sabe disso - são em número menor. Além disso, aparecem menos porque não estão sofrendo as dificuldades dos demais.
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Juro para o consumidor
A taxa de juros média para pessoa física apresentou uma redução de 0,04 ponto percentual em maio para 5,69% ao mês (94,27% ao ano). Foi a menor desde janeiro de 2014. A taxa mais cara voltou a ser a do rotativo do cartão de crédito, que é praticamente o dobro da média. Ultrapassou o cheque especial após ele ter tido o juro limitado no país ainda em 219.
Juro para empresas
A taxa de juros média para pessoa jurídica apresentou uma redução também de 0,04 ponto percentual em maio, passando para 3,06% ao mês (43,58% ao ano). É a menor desde maio de 2013.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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