
A cidade mais capitalista do planeta agora tem um prefeito socialista. Nova York, vitrine mundial do consumo e do lucro, elegeu Zohran Mamdani com o discurso de que é possível refundar o sonho americano com creches públicas, ônibus gratuitos e supermercados administrados pela prefeitura. Tudo aquilo que, até outro dia, a elite nova-iorquina abominava virou bandeira eleitoral. O capitalismo americano parece ter descoberto o charme da autocrítica, desde que ela venha com boa assessoria de imprensa.
Mas há algo mais grave do que a ironia política. Mamdani também é conhecido por declarações que ultrapassam a fronteira do debate ideológico. Ele se recusou a condenar universitários que gritavam por uma “intifada global” — expressão que remete a ondas de ataques terroristas contra civis judeus, nos anos 1980 e 2000, com explosões em ônibus, cafés e escolas. Mais do que um equívoco semântico, é uma indiferença moral.
O novo prefeito chegou a comparar esse movimento ao levante do gueto de Varsóvia, quando judeus enfrentaram os nazistas em uma das páginas mais heroicas da história. A analogia, no mínimo, é ultrajante. Ele também já afirmou que Israel não deveria existir como um “Estado judeu”, mas “de todos os seus cidadãos”. Ignora, talvez, que é justamente por ser um Estado judeu que Israel existe e precisa existir. Porque o mundo já viu o que acontece quando o povo judeu não tem um lugar seguro para chamar de seu.
Israel não é um privilégio religioso, é um refúgio histórico. É o único território no mundo onde ser judeu não depende da tolerância dos outros. E é justamente por isso que causa espanto ver um político com esse histórico ser eleito, com festa, na cidade que abrigou milhões de judeus fugindo do antissemitismo europeu.
Nova York, que se orgulha de ser a capital do mundo livre, testa agora o limite do próprio liberalismo. O coração do capitalismo flerta com o socialismo, e o berço da tolerância normaliza o discurso do ódio, desde que ele se vista de diversidade e fale em nome da justiça social.
É um sinal dos tempos: o Ocidente aprendeu a tolerar a intolerância se ela vier embalada em palavras bonitas. A revolução, agora, tem endereço na Quinta Avenida. E talvez a história, mais uma vez, chame de engano o que o presente insiste em chamar de progresso.




