
Completam-se hoje dois anos do mais mortal ataque a judeus desde o fim do Holocausto. Esse atentado não foi apenas contra judeus ou contra Israel, mas contra a humanidade, a civilidade e o Ocidente como um todo. E a grande ironia é que o Ocidente, gozando das liberdades que só quem passou pelo Iluminismo tem garantidas, passou a vocalizar com muita força um antissemitismo que parecia adormecido.
Os judeus da diáspora – mais de 6 milhões ao redor do mundo – passaram a andar com medo de usar os símbolos de sua religião. As sinagogas passaram a contar com aparatos de segurança de consulados, tamanho receio de sofrerem represálias simplesmente por serem quem são.
Durante a Segunda Guerra, ninguém questionou o direito da Alemanha de existir. Nas inúmeras guerras provocadas pelos Estados Unidos, ninguém propôs boicote à Disney. Na covardia da guerra da Ucrânia, ninguém coloca em questão o direito dos russos de serem russos. Mas com Israel é sempre diferente.
No último fim de semana, o mundo inteiro foi palco de manifestações massivas em apoio à Palestina e contra a existência de Israel. De Londres a São Paulo, de Paris a Buenos Aires, milhares de manifestantes marcharam em nome da Palestina empunhando bandeiras, cartazes e palavras de ordem contra Israel e seus aliados. O curioso é o momento. Depois de quase dois anos de uma guerra brutal, com incontáveis mortos, cidades devastadas e reféns ainda em poder do Hamas, o cessar-fogo parece, enfim, mais próximo do que nunca.
E justamente agora, quando se fala em trégua e reconstrução, é que o barulho e a virulência crescem. Coincidência? Duvido.
O estopim mais recente talvez tenha sido o fiasco da flotilha de influenciadores e políticos que tentou furar o bloqueio marítimo de Gaza. O grupo dizia levar ajuda humanitária, mas as Forças de Defesa de Israel informaram que havia pouco menos de 2 toneladas de suprimentos distribuídos entre mais de 40 embarcações, o que equivale a metade de um caminhão de ajuda humanitária. Uma encenação simbólica, mais performática do que solidária, e que acabou servindo de combustível para novas mobilizações mundo afora.
Mas o timing não deixa de ser revelador. O Hamas, que iniciou o conflito em 2023 com um ataque bárbaro contra civis israelenses, agora sinaliza aceitar o acordo proposto por Donald Trump. O plano, aceito por Israel e elogiado por boa parte dos países árabes e até por líderes improváveis como Putin e Lula, prevê um cessar-fogo, a devolução dos reféns e um roteiro político para um Estado palestino viável. Algo que, em outros tempos, seria celebrado com fogos de artifício nas capitais do Ocidente.
Desta vez, não.
A sensação é de que, para certos grupos, a paz atrapalha. Quando o conflito cessa, some também o palco. O inimigo deixa de existir, e junto com ele, a razão de viver de muita militância que se alimenta do ódio e da indignação seletiva. Afinal, se a guerra acaba, ainda mais sob a mediação de Trump, sobre o que vão protestar depois? Onde vão despejar a raiva que hoje se disfarça de compaixão?
O contraste é gritante: enquanto israelenses e palestinos olham para o mesmo horizonte e começam a enxergar um futuro possível, a massa barulhenta das grandes cidades ocidentais prefere insistir na retórica do conflito. São os mesmos que clamam por liberdade, mas calam diante do terror; que falam em direitos humanos, mas justificam massacres quando os autores são “do lado certo da história”.
Quando a paz deixa de ser conveniente, ela se torna um problema.
É isso o que este momento revela e talvez este seja o retrato mais triste dessa guerra. Porque se há algo mais perigoso do que o fanatismo religioso ou a brutalidade política, é a incapacidade de desejar a paz quando ela finalmente se aproxima.
E, no fundo, talvez seja por isso que o Oriente Médio esteja tão cansado e o mundo, tão perdido. Que a paz chegue logo e que os raivosos possam encontrar novas obsessões para se preocuparem que não envolvam Israel e o seu povo.
Am Israel Chai.




