
Que semana.
O Brasil é um país de fé, mas governado por gente que trata a fé como um problema a ser administrado. Basta observar como certos políticos entram e saem de eventos religiosos com a delicadeza de quem pisa num terreno hostil. Quando falam com evangélicos, pesam cada palavra como quem evita um erro diplomático. E evitam, sobretudo, dizer a verdade: que por anos desprezaram esse grupo, riram dele, desdenharam de seus valores — e agora não sabem mais como se reconectar.
Enquanto isso, outros nomes ganham espaço sem esforço. Não porque façam promessas, mas porque não se envergonham de estar ali. A política é, antes de tudo, uma questão de escuta. E quem fala com o povo como se estivesse traduzindo Martin Heidegger num púlpito acaba falando sozinho.
O Estado naturalizou o colapso e a culpa é sempre da chuva, nunca da falta de planejamento, da demora nos repasses, da falência de um modelo que trata emergência como exceção, mesmo quando é regra
Mas não foi só isso que assolou a semana.
As águas no Rio Grande do Sul voltaram a cair, porque elas sempre voltam. E junto com elas, a sensação de que nós aprendemos a conviver com a tragédia como se ela fosse sazonal, inevitável, quase folclórica. ", nunca da falta de planejamento, da demora nos repasses, da falência de um modelo que trata emergência como exceção, mesmo quando é regra.
Se aqui a gente anda com a sensação do afogamento, lá fora, o mundo segue em ebulição e o Brasil segue confuso sobre onde está. Diante de regimes que oprimem mulheres, matam dissidentes e ameaçam democracias, ainda preferimos a dubiedade diplomática. Fingimos neutralidade para evitar nos comprometer e acabamos nos omitindo de princípios básicos civilizatórios.
E se tudo isso ainda não bastasse, ainda tivemos a abertura da tramitação da CPMI do INSS. Um escândalo cujo rombo atravessa governos, partidos e ideologias. Um esquema sofisticado, meticuloso, sorrateiro e absolutamente previsível. Quem avisa é chato, torce contra. Quem denuncia é exagerado. Até que se revela o tamanho da rachadura, aí todos fingem surpresa.