
Começaram ontem as oitivas dos réus do que chamam de “núcleo crucial” da tentativa de golpe após as eleições de 2022. O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, confirmou sem rodeios: havia, sim, um plano golpista. Mais que isso, disse que o ex-presidente não só leu a tal minuta golpista, como meteu a caneta e fez alterações.
Na contramão, o deputado Alexandre Ramagem negou tudo. Disse que não passou informações pra ninguém, muito menos usou a Abin pra espionar autoridades. Cada um com sua versão, como sempre. Mas o que realmente me chamou a atenção não foi nem a troca de acusações, nem as provas, nem as negativas. Foi o clima. Mauro Cid chegou, cumprimentou Bolsonaro, deu um abraço em Ramagem, bateu continência pros generais. Tudo num tom de respeito, hierarquia, quase uma reunião de amigos de longa data. Parecia até churrasco de final de semana, daqueles que a gente faz no pátio de casa.
Que lição, essa que a política nos dá. Lá fora, nas ruas, nas famílias, o Brasil está rachado. Pais brigam com filhos, filhos cortam laços com pais, casamentos desmoronam, tudo por causa de discordâncias políticas. Amizades de décadas viram pó porque um votou no A e o outro no B. Mas lá em Brasília, quando as câmeras se apagam e os microfones da imprensa não estão por perto, são todos irmãos. Brigam no plenário, trocam farpas na TV, mas depois saem pra jantar juntos, riem, contam piadas, como se nada fosse. E a gente aqui, brigando nas redes sociais pra decidir quem está certo. Hoje, as oitivas continuam, e provavelmente vão seguir nesse mesmo tom de cordialidade entre os réus.
Está na hora de virarmos de uma vez esta página. Não dá mais pra vivermos neste clima de guerra institucional que trava o país. A gente precisa encerrar esse assunto, condenar quem tem que ser condenado, com penas justas, dentro da lei, e seguir em frente. Porque, enquanto ficamos presos nessa briga sem fim para “proteger a democracia”, as pautas que realmente importam ficam paradas. Como melhorar a vida da população? Como resolver os problemas reais, daqueles que batem na porta todo dia? Ninguém aguenta mais.
Quero acreditar, ainda que com um pé atrás, que é possível pacificar o Brasil. Não com abraços ensaiados em Brasília, mas com trabalho sério, com foco no que une, e não no que divide.