
A cúpula do G7 emitiu um comunicado que, diferente do habitual tom aguado da diplomacia ocidental, trouxe palavras mais firmes. O texto não apenas reafirmou o apoio a Israel como deixou claro que o Irã é, sim, uma fonte de instabilidade global. Chamou pelo nome o que muitos preferem disfarçar. Ainda assim, apelou pela moderação de todos os lados, como se o terror e a autodefesa estivessem no mesmo patamar moral.
Foi um avanço, sem dúvida. Mas ainda há hesitação. E nessa hesitação, o vácuo vai sendo ocupado.
Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, participou do encontro e saiu antes do fim. Alegou que precisava voltar ao país por um “motivo maior que uma trégua”. O detalhe é que esse sumiço veio logo após uma publicação sua sugerindo a evacuação imediata de Teerã, algo que reverberou inclusive na diplomacia russa e chinesa. Trump, como sempre, prefere o confronto à nuance. É o tipo de presença que silencia salas e eletrifica ambientes. Mesmo quando vai embora.
E aí tem Lula. Ao chegar no Canadá, nosso presidente foi recebido como convidado. Mas se comportou como quem foi à festa só pra dizer que não queria estar ali. Declarou que o G7 não deveria existir e que só vai às reuniões para não dizer que “recusa a festa dos ricos”. Disse que preferia um G20 mais forte. Soaria legítimo se não viesse justamente de quem tem se esforçado para relativizar ditaduras, minimizar abusos e defender um modelo de “equilíbrio multipolar” que ignora o abismo moral entre democracias e autoritarismos.
Na prática, Lula diz querer um mundo onde todos sentam à mesma mesa como se fossem iguais. Mas não são. A Rússia não é igual à Alemanha. A China não é igual ao Japão. E o Irã, definitivamente, não é igual a Israel. Fingir que são só atores com visões distintas é recusar a realidade e abraçar a fantasia.
Na última segunda-feira (16), Leandro Staudt narrou em sua coluna o encantamento das crianças no circo. A mágica que resiste, os olhos que brilham com malabaristas e palhaços. E é verdade: o circo tem mesmo esse poder bonito de nos lembrar da fantasia. O problema é quando a diplomacia internacional começa a se parecer com isso.
Alguns líderes jogam pra sua plateia. Outros tentam equilibrar tudo sem deixar cair. Alguns cospem fogo. E outros, como Lula, apenas vestem uma fantasia de importância para sair bem na foto. Só que, diferente do circo, no G7 o fogo não é de mentira. E quando o mundo real pega fogo não basta parecer sério. É preciso ser.