
Viver a História em tempo real é exaustivo. A História que estudamos — aquela dos livros, dos documentários, das efemérides — já passou pelo filtro do tempo, já tem seus vencedores estabelecidos, já permite análises mais sóbrias. Mas a História que a gente vive é crua. Tem ruído, paixão, erro de avaliação. Exige leitura de contexto antes de julgamento. E, por isso mesmo, é tão difícil manter a lucidez.
Ainda assim, há fatos que são tão cristalinos que não permitem grandes ambiguidades. Um deles se impõe com urgência: o ataque dos Estados Unidos a instalações militares iranianas, incluindo alvos nucleares, não é apenas um episódio tático. É um marco, um divisor. Uma declaração de que a guerra entre Israel e Irã não é mais apenas um conflito regional, é uma disputa entre dois projetos de mundo. Um que valoriza a vida e outro que a instrumentaliza.
Israel, com todos os seus dilemas e erros, não tem como objetivo transformar civis em mártires midiáticos. Quando Tel Aviv é alvo de mísseis iranianos, morre menos gente porque Israel se prepara para proteger seu povo. Porque prefere que seus cidadãos vivam, e não que morram pela causa. É exatamente o oposto do que faz o regime teocrático do Irã, que transforma inocentes em slogans.
O Ocidente hesitou por tempo demais. Tentou o equilíbrio, o distanciamento estratégico, o discurso das boas intenções. Mas desta vez os Estados Unidos entraram em campo com clareza. E disseram, sem meias palavras, que a existência de Israel é também a existência de uma ordem que ainda ousa acreditar em direitos humanos, liberdade individual, democracia e civilização.
Quem confirma isso não sou eu. São os líderes das principais democracias do mundo, em comunicados oficiais. É o G7, que finalmente começou a chamar o Irã pelo que ele é: a principal fonte de instabilidade planetária. Por isso soa absurda — ainda que não surpreendente — a reação do governo brasileiro, que condenou com veemência os ataques dos EUA, mas silencia diante de tudo que o Irã representa: repressão, misoginia, financiamento ao terror global e enriquecimento clandestino de urânio.
É claro que ataques a instalações nucleares envolvem riscos. O mundo não precisa de mais instabilidade. Mas é exatamente por isso que é preciso impedir que esse tipo de poder caia nas mãos de regimes que já provaram que não têm freios morais. Que, se pudessem, usariam armas de destruição em massa com a frieza de quem joga um dado.
Defender Israel não é apenas uma posição ideológica ou geopolítica. É, hoje, uma escolha de civilização. Uma trincheira simbólica entre o século 21 e a barbárie. E, diante dessa trincheira, a neutralidade também é uma escolha. Só que feita, ainda que veladamente, a favor do terror.