
Depois de semanas de silêncio constrangedor, o governo Lula finalmente se mexeu na crise do INSS e Carlos Lupi não é mais ministro. Mas, como tudo no Brasil vem sempre com um "mas", o substituto escolhido é Wolney Queiroz — seis mandatos pelo PDT, ex-líder do partido na Câmara, número 2 da pasta e, claro, braço direito de Lupi.
A troca é simbólica e o símbolo é ruim. É como tirar o cigarro da boca pra colocar um charuto. O pulmão segue comprometido.
Lupi caiu porque era insustentável manter o ministro da Previdência no cargo depois de um escândalo que envolveu mais de 700 mil aposentados lesados por descontos fraudulentos. Mas ao manter o controle da pasta nas mãos do mesmo grupo político, o governo passou o seguinte recado: estamos mais preocupados com a base aliada do que com os velhinhos roubados.
O PDT ameaçou sair do governo, a oposição está sedenta por uma CPI e Lula, que já não tem margem para perder votos no Congresso, preferiu sacrificar a imagem pública em nome da estabilidade precária.
Enquanto isso, o dinheiro não voltou. Os aposentados não sabem se vão ser ressarcidos. A base do governo fala em “lei futura” para devolver os valores. A oposição quer CPI não para defender o aposentado, mas para sangrar o Planalto.
E no meio disso tudo, a pergunta mais importante continua no vácuo: quem protege quem vive do INSS?
Pior: todo esse teatro político acontece diante de um sistema previdenciário em frangalhos. A geração Z já dá sinais de que não vai entrar nessa engrenagem. Trabalha informal, estagia mal, contribui pouco e desconfia, com razão, de que não vai receber nada no futuro.
Todo mundo sabe que uma nova reforma da Previdência virá. A dúvida é: com que moral o governo vai cobrar mais sacrifício, se não consegue sequer admitir a própria omissão diante de uma fraude estatal?
A troca de ministro não foi solução, foi uma tentativa mambembe de anestesia. Uma tentativa de empurrar o escândalo para debaixo da pauta quente, esperando que ele escorra pelo ralo do calendário. Mas tem coisas que não evaporam.
A imagem do aposentado sendo roubado de dentro do Estado, com conivência de indicados políticos, não desaparece com a nomeação de um novo vigia se o galpão continua escancarado. E o que se espera de um governo, no mínimo, é que feche a porta depois do roubo, e não que troque a fechadura para agradar quem perdeu a chave.