
A cada manhã, o Brasil acorda e se olha no espelho com uma pergunta na cabeça: “até onde vai tanta palhaçada?”. Amanhecemos nesta quinta-feira (8) com o país resolvendo responder a questão com três capítulos distintos de uma mesma novela: a da institucionalidade em frangalhos.
No primeiro ato, a Câmara dos Deputados decidiu suspender o processo contra Alexandre Ramagem no Supremo. Ramagem, ex-homem de confiança da família Bolsonaro, suspeito de aparelhar a Abin para espionar desafetos políticos de seus chefes, foi apontado pela Justiça como parte da organização criminosa que tentou um golpe de Estado em 2022.
A votação na Câmara foi simbólica no mais puro e literal sentido: um símbolo da arrogância, da impunidade e do corporativismo. O tipo de blindagem que não se compra com argumento, mas se garante com maioria. No Brasil, o uso do mandato como escudo é tão recorrente que já virou cláusula pétrea do regimento não escrito de Brasília.
No segundo ato, trocamos os ternos pelos abrigos esportivos. O Senado resolveu convidar o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, para explicar as recentes denúncias de abuso de poder dentro da entidade. Um passo relevante, não fosse o detalhe de que o pedido de afastamento de Ednaldo, feito pela deputada Daniela Carneiro, foi rejeitado por Gilmar Mendes. Ministro este que fundou um instituto que tem contratos milionários com a própria CBF. Coincidência, claro. Como tudo neste país.
No terceiro ato, um presente do Banco Central: a Selic foi para 14,75%, maior patamar em quase duas décadas. Para quem sonha com casa própria ou crédito para investir, a mensagem é clara: desista. O BC mira a inflação com uma bazuca, mesmo que isso custe o pulmão do paciente. Tudo em nome de um equilíbrio que nunca chega, enquanto o governo patina sem norte e o cenário global, puxado pelas incertezas que Trump espalha como quem joga gasolina em incêndio, só piora.
E assim seguimos. Enquanto o mundo aguarda, hoje, a escolha de um novo papa no Vaticano, por aqui seguimos no nosso conclave perpétuo. Lá, fumaça branca anuncia esperança. Aqui, o que sobe é o vapor tóxico da impunidade que nunca se dissipa.