
Enquanto o país tropeça em suas crises mais básicas — do preço da comida ao caos na previdência — o presidente Lula e sua esposa vivem uma realidade à parte. Uma realidade de palcos, medalhas e discursos vazios. Ontem, Lula entregou à Janja a Ordem do Mérito Cultural. Em 2010, já havia feito algo similar com dona Marisa. Nada mais justo, diriam os fiéis. Mas o gesto, embora repetido, escancara a confusão entre o público e o privado que marca este governo.
Janja, aliás, parece ter adotado a fala como política pública. Em mais um evento, afirmou com orgulho que “não há protocolo que me faça calar”. É verdade. Não há mesmo. Está claríssimo. O problema é que talvez fosse hora de lembrar que, num país em chamas, silêncio e ação valem mais que frases de efeito. O protagonismo da primeira-dama, longe de somar, tem afastado. E quem agradece é a oposição, que assiste calada a autossabotagem diária do governo.
Do outro lado da Esplanada, Fernando Haddad, o mais tucano dos petistas, resolveu baixar o nível e disse que o PT vai “derrotar a extrema-direita escrota” em 2026. Uma grosseria que tenta esconder a fragilidade: um governo mal avaliado, uma economia trôpega e uma base social cada vez mais desiludida.
E enquanto isso, o brasileiro vai se preparando para pagar mais uma conta. A nova proposta do governo prevê isentar famílias de baixa renda da conta de luz, empurrando a fatura estimada em até R$ 7 bilhões para a classe média e os pequenos comércios. É mais ou menos assim que funciona o Brasil de hoje: uma medalha para Janja, uma conta para você.
Lula já não governa, ele encena. E o entorno, da esposa ao ministro da Fazenda, parece mais interessado em manter a liturgia de um passado glorioso do que enfrentar a realidade dura do presente. Mas o povo, esse sim sem honraria nem microfone, vai todos os dias trabalhar com uma certeza crescente: o Brasil está sendo mal governado.