
O mundo terminou a semana com os mapas sendo redesenhados por bombas, por urnas e por encontros diplomáticos. Alguns centímetros no front, alguns pontos percentuais nas urnas, algumas palavras num púlpito romano. Tudo com peso político e efeito duradouro.
Na Ucrânia, a Rússia segue sua marcha opaca e lenta. Conquista poucos metros em batalhas territoriais, mas exige quilômetros nas negociações. É a guerra transformada em chantagem geopolítica. No campo, ganha-se terreno a fórceps. Na mesa, joga-se com blefe e desgaste.
Mas foi longe das trincheiras, em Roma, que a guerra ucraniana teve um de seus gestos mais simbólicos. O presidente Volodymyr Zelensky foi recebido pelo papa Leão XIV, em sua primeira reunião desde que assumiu o papado. O encontro entre a fé e a política não resolveu a guerra, mas lembrou ao mundo que ela não pode ser naturalizada. Leão XIV afirmou, com a clareza dos que não precisam vencer eleição, que “a paz verdadeira só existe onde há justiça”, e ofereceu o Vaticano como território de negociação. Num mundo cínico, a oferta soou quase utópica. Mas foi, sobretudo, necessária.
Do outro lado do mapa, no Oriente Médio, Benjamin Netanyahu foi no caminho oposto. Disse que Israel deve manter controle permanente sobre Gaza mesmo após o fim da guerra. A frase oficializa o que há muito já vem ficando claro: para Bibi, a guerra deixou de ser resposta e a paz virou distração diplomática.
Na Europa, duas eleições colocaram o continente em xeque: em Portugal, o primeiro-ministro Luís Montenegro saiu fortalecido, num cenário em que o eleitorado parece rejeitar tanto a esquerda histórica quanto os extremos. Já na Romênia, um candidato pró-União Europeia derrotou um rival apoiado pela Rússia e pela extrema-direita. Foi uma vitória da moderação e um lembrete de que, mesmo em tempos de radicalização, ainda há espaço para projetos de centro com vocação democrática.
Todos esses episódios mostram um mundo em disputa. Mas não só por território ou poder. Há uma disputa por sentido, por narrativa, por legitimidade. Há uma reorganização de alianças, de blocos, de valores. E há países que enfrentam esse processo com clareza e outros que o evitam por medo de desagradar todos ao mesmo tempo.
É nesse ponto que voltamos ao Brasil.
Enquanto líderes mundiais se posicionam, o Brasil se equilibra entre o comércio com ditaduras e os discursos sobre democracia. A diplomacia brasileira hesita. Flerta com o autoritarismo em nome do pragmatismo. E quando tenta se afirmar como liderança global, faz isso sem convicção de valores. Parece mais interessada em agradar a todos do que em representar alguém.
O Brasil tem história. Tem reputação. Tem peso. Mas nenhuma dessas qualidades é garantida. Num mundo em reconfiguração, não há espaço para quem escolhe o conforto da ambiguidade. Ou o país participa da construção da paz — com clareza moral e política — ou acaba assistindo ao futuro sendo decidido por outros.