
Em fevereiro, os brasileiros souberam que um contrato de R$ 5,6 milhões firmado pelo governo federal para distribuir marmitas a pessoas que vivem na miséria em São Paulo estava alimentando, apenas e tão-somente, a ganância de gente muito bem de vida. A reportagem de O Globo resolveu visitar, na capital paulista, o local onde deveria funcionar uma “Cozinha Solidária” , e nada encontrou. Nada nem ninguém. Fuzilado pelo escândalo, o Ministério do Desenvolvimento Social não teve saída a não ser suspender o contrato que abastecia duas entidades: a ONG Madre Teresa de Calcutá, responsável pela “cozinha”, e a ONG Mover Helipa, que deveria “gerenciar” a execução do convênio. Em comum, as duas ONGs têm a ligação com o petismo e particularmente com a Tattolândia, como é conhecido o clã de Jilmar Tatto, ex-candidato à prefeitura de São Paulo pelo PT.
O que descrevo talvez até tenha caído no esquecimento, eis que nos governos que se dizem progressistas parecem vicejar, corriqueiramente, os casos de, digamos, progresso escrito com dois $$, boa parte dos quais envolvendo um tipo de entidade que deveria estar acima de qualquer suspeita mas, ao contrário, se afunda no descrédito. Se quiser limpar seu nome, o assim chamado terceiro setor terá de passar por uma depuração rigorosa, mas parece faltar, às pessoas escrupulosas e bem-intencionadas que atuam no opaco universo das Organizações Não-Governamentais, desprendimento ou capacidade de ação para esta faxina moral. E, enquanto isso, desfilam perante a opinião pública os exemplos de más práticas e atos criminosos que desembocam em escândalos absurdos — como o da fraude que lesou aposentados e pensionistas do INSS.
Há poucos dias, descobriu-se que o programa de construção de cisternas do Ministério do Desenvolvimento Social — ei-lo aí, outra vez — destinou em 2023 o maior valor dos últimos 22 anos para a construção de cisternas, e que 85% da verba, o que resulta em R$ 640 milhões, se concentrou nas mãos de uma ONG comandada por petistas. Para estancar a sangria de revelações desmoralizadoras, o governo Lula tomou uma providência igualmente imoral. Na semana passada, restringiu o acesso que os brasileiros podiam ter a documentos e dados sobre transferência de recursos públicos da ordem de R$ 600 bilhões em convênios e contratos com Estados, municípios e... ONGs.
O que tenta esconder?