
Preso em Bangu 3, onde cumpre pena de mais de 50 anos por tráfico e homicídios, Arnaldo da Silva da Dias é um homem conectado com o que acontece lá fora — dos becos e vielas aos carpetes do poder. Do cárcere, “Naldinho” dispara ordens com o famigerado emblema do Comando Vermelho, a falange que se tornou a grande grife do crime organizado no Brasil, ao lado do PCC — Primeiro Comando da Capital. Há poucos dias, soube-se até onde já chega a audácia deste autêntico Estado paralelo que dá as cartas no Brasil e que se serve de ligações com gente bem posicionada na república. Veio a público, pelo jornal O Globo, que a Polícia Federal descobriu mensagem de “Naldinho” dirigida a seus comparsas. No “Salve”, como este tipo de comunicação é conhecido no submundo da delinquência, o porta-voz do Comando Vermelho ordenava uma trégua nas atividades criminosas da rede durante o encontro do G20 no Rio de Janeiro, em 2024. Espie o teor do “Salve”.
“Boa tarde a todos meus irmãos. Hoje, um representante das autoridades no Rio procurou o irmão que é sintonia e pediu para segurarmos sete dias sem guerras e roubo devido ao G20 (são representantes de 20 países diferentes). (...) todos estamos de acordo em segurar esses sete dias até porque se veio no diálogo eles demonstraram um respeito por nós.” Numa primeira versão, “Naldinho” foi truculento. “O irmão que vier a se colocar acima da facção poderá ser punido conforme rege nosso estatuto.” Depois, resolveu consultar outro chefão do crime, Edgar Alves Andrade, o Doca. “Irmão, vê se está no padrão para frear um pouco ou se tão pesadas as palavras?” Tavam pesadas, sim, e o texto foi abrandado.
Quem é a “autoridade” que fez o pacto com o Comando Vermelho e quem é o “irmão que é sintonia”, ainda não se sabe. O que já se sabe, não em Brasília, mas em Washington, é que o CV e o PCC, em articulação com parceiros em países como México e Colômbia, já atuam em 22 estados norte-americanos. Por considerar estas redes uma ameaça à segurança nacional dos EUA, Donald Trump enviou representante ao Brasil propondo classificá-las como organizações terroristas. O governo Lula recusou. Preferiu adotar um conceito de terrorismo mais condescendente, recorrendo a subterfúgios tão cínicos como o que empregou em 2023 para não chamar de terrorismo a matança de civis, e até bebês, perpetrada pelo Hamas em Israel.