
A frase que abriu a coluna anterior — “O Brasil está sequestrado pelas corporações” — parece longe de ter um ponto final. O assalto à carteira de aposentados, pensionistas e pessoas em estado de vulnerabilidade expõe, por todos os lados, a falência moral do Estado brasileiro. Dói saber. E dói ainda mais perceber que algo tão simples e evidente como este enunciado, a falência moral do Estado brasileiro, não significa nada para grande parte da população brasileira que não entende o que lê e é incapaz de fazer contas, como demonstram sucessivas pesquisas sobre analfabetismo funcional no país. O estado de indigência material e intelectual de amplas parcelas da população, que deveria merecer atenção máxima dos dirigentes, a exemplo do que sucedeu em países como a Coréia do Sul, parece, ao contrário, servir aos propósitos dos agentes do poder no Brasil. A perpetuação da pobreza e da ignorância abre largas avenidas para a atuação de espertalhões e a formação de laços de mútuo proveito entre toda sorte de aproveitadores — no governo, no Congresso Nacional, na Justiça, no setor privado e em muitas destas células de nome charmoso e perfil obscuro que parasitam o poder, como ONGs, sindicatos e outros entes capturados por farsantes especializados em iludir e simular virtudes.
A farra do INSS é de extensão ainda desconhecida, porque além dos descontos não autorizados, que sugaram os troquinhos até mesmo de camponeses e indígenas, surgem novas e pérfidas revelações, como a prática de enfiar nos aposentados empréstimos que eles não pediram mas que terão de pagar com juros nada camaradas. Projeta-se, ao final das contas, um escândalo que pode superar, em cifras, a escala descomunal do chamado “Petrolão”, com o agravante de que, agora, a roubalheira vitimou diretamente pessoas do povo. Gente de carne, osso e necessidades. Em muitos casos, são o que o direito chama de “incapazes”, ou “vulneráveis”. Tungar gente assim é uma ignomínia comparável à do meliante que se curva ante o cego, na calçada, para afanar suas moedinhas.
Em janeiro de 2019, o presidente recém empossado, Jair Bolsonaro, editou medida provisória para impor a revisão anual dos descontos que sindicatos operavam nos proventos dos aposentados. O Congresso, refém de corporações, parte delas agora sob investigação, derrubou a MP.
Um crime anunciado. E consumado.