
O Brasil está sequestrado pelas corporações. É um mal antigo, mas que se agravou à medida que aquele comercial histórico do cigarro Vila Rica, “Leve vantagem você também!”, se tornou o slogan comportamental de gerações. Sindicatos, associações e ordens foram se desprendendo de princípios à medida que algum interesse material ou ambição de poder falasse mais alto. E foi assim que chegamos, hoje, a este estado de coisas em que diretores de associações e sindicatos de aposentados enfiam discretamente a mão nos bolsos das pessoas que dizem representar e defender. É nesta mesma moldura que contemplamos a Associação Brasileira de Imprensa apoiar a censura e a perseguição a jornalistas conservadores e vemos, ainda, entidades de defesa dos direitos humanos compactuando, pelo silêncio, com a prisão de inocentes acusados de crimes impossíveis. Pior, neste cortejo de horrores, foi ver a OAB nacional inerte diante das agressões mais torpes aos direitos e garantias individuais praticadas desde 2019 pelo Supremo Tribunal Federal. Omitiu-se de cumprir até mesmo a sua obrigação mais comezinha, como entidade de classe, que é a defesa firme e desassombrada das prerrogativas profissionais dos advogados brasileiros ante o ultraje de que têm sido vítimas — eles e seus clientes.
O próprio STF tornou-se uma corporação autorreferente, com grande parte dos seus 11 integrantes unidos por laços políticos com o petismo que lhes forneceu a cadeira na corte suprema graças a um período de quase duas décadas de ocupação e loteamento do poder. O cúmulo do corporativismo alcançado por este tribunal, que um dia mereceu ser chamado de corte constitucional, foi a decisão de permitir a seus membros o julgamento de ações que envolvam escritórios jurídicos em que atuam advogados que são familiares dos togados. Negacionismo, cinismo, escolha você — enquanto tiver o direito de pensar — a palavra que define melhor a conduta de um julgador que não reconhece o evidente conflito de interesse a impedir, ou no mínimo manchar, a decisão ou sentença que será dada. Mais detalhes tratarei de trazer quando abordar o colapso do Banco Master, que ao se enredar em negócios de alto risco decidiu contratar ninguém menos que a mulher do ministro do STF, Alexandre de Moraes, segundo registrou O Globo.
E ai de quem colocar um maço de “Vila Rica” aos pés da estátua.