
Essa é uma pergunta que eu escuto com frequência: por que alguém corre 42 quilômetros? Se a gente parar pra pensar friamente, não existe uma resposta prática. Não tem lógica objetiva que convença quem faz a pergunta. Porque correr 42 km não é lógico, é pessoal.
No meu caso, a corrida entrou na minha vida quando eu queria mudar. Estava com 95 kg, sentindo dores que não condiziam com a idade que eu tinha. Estressado. Cansado. Com 27 pra 28 anos, comecei a me preocupar com o futuro.
Com a saúde. Com a qualidade de vida. Com os filhos que eu ainda queria ter — e com a vontade de estar presente, com saúde, pra viver o melhor da vida com eles.
Comecei a correr em 2016. Regularmente. Com constância. Perdi 15 kg em dois meses. Fiz algumas provas curtas de 5 km. E aí percebi: se eu não tivesse um objetivo maior, talvez voltasse ao ponto de partida. Era tudo o que eu não queria.
E foi isso que a Maratona de Porto Alegre representou pra mim naquele ano de 2017: uma meta que me obrigava a treinar. A manter a rotina. A cuidar de mim. Porque correr 42 km não é só cruzar uma linha de chegada. É cruzar uma linha interna que separa o que tu quer ser daquilo que tu já não aceita mais ser.
De lá pra cá, foram 11 maratonas. E a Maratona Internacional de Porto Alegre de 2025, a 40ª edição da prova, será a minha 12ª.
Mas será que eu respondi à pergunta? Se fosse só pelo objetivo de manter o treino, talvez eu já não precisasse mais correr 42 km. Eu poderia fazer provas menores. E me manter em forma.
Mas a verdade é que chega um ponto em que a maratona deixa de ser uma prova e passa a ser um estilo de vida. Ela vira metáfora da vida.
Na corrida, como na vida, a gente precisa de grandes sonhos. Algo lá na frente que nos mova. Que nos tire da zona de conforto. Que nos faça buscar. Treinar. Sofrer. Evoluir. A maratona é isso: um lembrete constante de que a vida não se vive em linha reta. Ela se constrói no processo.
Às vezes, a maratona é sobre buscar o melhor tempo da vida. Outras vezes, é só sobre concluir. Sobre provar pra si mesmo que tu ainda consegue. Mesmo cansado. Mesmo sem estar no teu auge. Porque ser maratonista é saber lidar com os altos e baixos. É saber que nem sempre tu vai entregar a tua melhor marca, mas que tu segue em frente mesmo assim.
E é isso que eu vou fazer mais uma vez na Maratona de Porto Alegre. Não é só mais uma prova. É mais um capítulo de uma história que começou com uma vontade de mudar e virou uma forma de viver.
Então, por que alguém corre 42 km? A verdade é que não existe uma única resposta certa. E nem teria graça se existisse.