
É preciso ampliar a leitura das vitórias épicas de Botafogo e Flamengo sobre PSG e Chelsea, na Copa do Mundo de clubes. A primeira questão está no adjetivo.
Se a jornada precisa ser épica, é porque é algo raro, eventual, de superação. Mesmo com os dois triunfos, o placar de brasileiros contra europeus em torneios Fifa segue medonho na última década: nos últimos oito encontros, 6x2 para eles. Com um detalhe: essas seis vitórias foram em decisão, e não fase de grupos, novidade a partir deste ano.
Se algum europeu vencer o torneio este ano, alguém poderá dizer que a estatística ficará em 7 a 0 nos últimos sete mundiais. Temos de avançar na fotografia que vem dos Estados Unidos.
A tese do foco
É fim de temporada para os europeus. Em tese, eles estão mais debilitados fisicamente. Antes o Mundial era em dezembro. O cansaço era nosso. Só que, neste 2025, a maratona de jogos para Flamengo, Palmeiras, Botafogo e Fluminense até o Mundial foi desumana.
Cansaço lá e aqui. Tem de ver como será nos matas. Para a tese do foco se confirmar, os tubarões da Europa terão de ser muito superiores nos matas. Conseguirão?
O nosso abismo
Botafogo e Flamengo jogam o Mundial como primos pobres. São os operários. Pense agora em Grêmio e Inter. Flamengo, orçamento de R$ 1,3 bilhão. Botafogo, rios de dinheiro despejadas pelo seu dono, John Textor. O título da Libertadores paga R$ 132 milhões.
Somando os R$ 85 milhões da fase de grupos do Mundial, são R$ 217 milhões. Quem são os favoritos na Libertadores 2025? Se Grêmio e Inter não entrarem na rota do dinheiro novo, o abismo nacional se aprofundará. Ficaremos com as migalhas da festa. E olhe lá.
Conclusão
O que se pode concluir, aí sim, é que, para os ricaços nacionais (Flamengo, Palmeiras, Botafogo SAF), jogar contra os grandes da Europa não é mais vira em dois acaba em quatro. O abismo diminuiu — mas só para eles, que elevaram absurdamente a régua financeira.
Não é o caso de Grêmio e Inter. Se somos os primos pobres aqui no Brasil, seríamos o que globalmente? Miseráveis, talvez.