Precisamos discutir a gastança de dinheiro público pelo Poder Legislativo. Ainda não surgiu, nos debates sobre a reforma administrativa, a defesa mais contundente pela urgente redução de despesas parlamentares.
É um assunto que oferece resistência, afinal, a prerrogativa para passar a tesoura é deles mesmos. Isoladamente, parlamentares falam da necessidade de diminuição, mas é uma ideia que nunca prosperou.
O Senado, por exemplo, tem um orçamento de R$ 4 bilhões. São R$ 4 bilhões para 81 senadores, assessores técnicos e outros funcionários. O senador Lasier Martins sugere uma economia de R$ 500 milhões. Não foi adiante.
Na Câmara dos Deputados, não é diferente. Além do salário mensal, do auxílio moradia — ou apartamento funcional — e de passagens aéreas, os deputados ainda podem desfrutar de uma verba de gabinete de gabinete mensal (R$ 111 mil por mês) para pagar salários de até 25 funcionários e cota que cobre gastos com combustível, locação de veículo e divulgação das atividades do mandato.
Multiplique este gasto por 513, que é o número de deputados. Se cada parlamentar empregar o que pode, 25 funcionários, são 12.825 pessoas.
Se antes da crise já era uma anomalia, agora é uma excrescência ainda mais evidente. Enquanto todos os brasileiros fora da bolha de Brasília, de uma forma de outra, foram obrigados a fazer a sua reforma administrativa pessoal, enxugando gastos, revendo despesas, abrindo mão até de coisas essenciais, na capital federal nada mudou.
Alguém vai poder dizer que a reforma tributária é ainda mais urgente, pois poderia mirar em receitar maiores. Uma reforma não exclui a outra. Uma reforma administrativa profunda, séria e mais do que necessária seria o mínimo que o Parlamento brasileiro poderia fazer em 2021 para dar a sua cota de contribuição.