
Vou confessar um anacronismo: carrego ainda um lenço de pano.
Estando ou não com traje social, não abdico do acessório. Não o deposito exclusivamente no bolso do terno, para enfeite. Está a postos na calça.
Tampouco recorro a ele para meu próprio proveito, para conter eventual gripe, crise alérgica ou suor excessivo. Fica à disposição de futuras lágrimas, de pessoas com necessidade de ombro amigo, de desabafo, de súbitas prostrações.
É meu pronto-socorro sentimental aos olhos dos demais: para a vermelhidão do rosto, a maquiagem borrada, o medo ou a ansiedade.
Parece que nem teria serventia numa época plenamente digital. Pelo contrário, não são poucos os que desandam a chorar perto de mim. O lenço é a elegância no meio da confusão e do caos dos sentimentos.
O cansaço com a sobrecarga de responsabilidades nunca foi tão agudo. Uso com frequência o colo desse buquê de linho.
Dados recentes apontam que 42% dos brasileiros relatam esgotamento. Segundo pesquisa do Datafolha de 2023, seis em cada dez trabalhadores expressam alto nível de estresse. O estudo revela também que o percentual é maior entre o público feminino: sobe para sete em cada dez mulheres entrevistadas.
Toda vez que alcanço o lenço, o interlocutor se vê amparado, compreendido. O gesto traduz que me importo com o seu sofrimento, que respeito a gravidade da situação. Permite a conversa educada, a pergunta “posso ajudar com mais alguma coisa?”.
Ele deve pensar que foi uma casualidade tê-lo à mão, mas para mim é um item obrigatório ao sair de casa.
Tem gente que leva guarda-chuva, percebendo pela meteorologia que vai cair um toró, eu levo lenços para a chuva interior.
Herdei essa noção de cavalheirismo do meu avô, desde os tempos do uniforme escolar, e jamais extingui o hábito, mesmo que tenha sido motivo de zombarias e piadas entre os colegas.
Com uma vizinha em apuros, minha avó oferecia um copo de água com açúcar. Meu avô desfraldava sua pequena flâmula de enxugar do casaco. As atitudes funcionavam para o restabelecimento da saúde emocional.
Não esqueci o mandamento. Assim como sigo lustrando meus sapatos com escovinha e cera. Assim como faço minha barba com lâmina e espuma.
Sou um homem pré-histórico, formado com convenções e ritos.
Mantenho uma gaveta para meias, outra para gravatas, outra para cuecas e outra para os lenços, com rendas nas bordas, que facilitam sua dobradura.
Prefiro o tecido a uma caixa de papel, com lencinhos arrancados em grande quantidade e que não estancam o grito.
É como estender parte de si para quem padece. Uma parte de seu vestuário. De seu caráter. De suas lembranças.
A atenção é sempre curativa.
Quando eu morrer — espero que não seja em breve —, quero que me acenem com lenços. Como nos antigos portos. Como nas antigas estações de trem.
Um adeus com uma pomba voando dos dedos para o céu da saudade.





