
Dizem que não se morre a dois. A morte é solitária.
Mas o que aconteceu com Juliana Marins foi uma morte pública. A publicitária, natural de Niterói (RJ), de sorriso brotando nos lábios e nos olhos, sofreu uma queda durante trilha no vulcão Rinjani, o segundo mais alto da Indonésia, com caminhos escorregadios e perigosos.
No sábado (21), Juliana se desgarrou do seu grupo de expedição por cansaço. Ao constatar seu sumiço, o guia percebeu que ela tinha caído por cerca de 300 metros num precipício.
A equipe de buscas levou quatro infinitos dias para fazer o resgate de uma jovem machucada, com fome, com sede, no mais severo frio e penumbra.
Mesmo com imagens de drone cerca de três horas após o tombo. Mesmo com a localização. Mesmo com colegas alertando a família a partir de fotos e vídeos. Mesmo com uma campanha pelas redes sociais.
Ela acabou sendo encontrada tarde demais.
Fico imaginando o quanto ela tentou resistir à toa, agarrada à esperança.
O socorro se mostrou lento, doloroso e precário. Não houve envio de água, mantimentos, agasalhos e itens de sobrevivência.
Entende-se que a neblina espessa, o terreno instável e a falta de visibilidade comprometiam o uso de helicópteros e dificultavam o acesso dos socorristas. Porém, acidentes são comuns na área, com oito vítimas nos últimos cinco anos. Não existe nenhum protocolo de segurança e planejamento prévio de resgate?
O “talvez” a assassinou, num momento em que não poderiam restar dúvidas.
Sabia-se onde ela estava, e havia sinais de que ainda estava consciente, debilitada, sem condições de aguentar por muito tempo.
Talvez pelo fato de ser estrangeira, talvez pela barreira do idioma, talvez pela comunicação falha entre autoridades.
O “talvez” a assassinou, num momento em que não poderiam restar dúvidas.
Ela realizava seu sonho de completar uma aventura de autoconhecimento pela Ásia. Desde fevereiro, percorreu santuários da beleza natural nas Filipinas, Tailândia e Vietnã, antes de chegar à Indonésia.
Juliana tinha apenas 26 anos. Era para ter sido uma viagem entre tantas que traçaria em sua vida. Jamais passaria pelo seu coração cheio de futuro que seria sua despedida. Absolutamente sozinha, impotente, vista por todos.