
O que era para ser um passeio inesquecível de balão, com 21 tripulantes, virou uma bola de fogo letal — à semelhança de um cometa rasgando o azul do céu e despencando sobre uma área de mata em Praia Grande (SC), na divisa com o Rio Grande do Sul, na manhã deste sábado (21).
Fazia sol na região no momento da queda, e imagens compartilhadas mostram a estrutura do veículo aéreo sendo carbonizada minuto a minuto: a lona murchando pelas chamas com rapidez, a ponto de restar apenas o cesto.
Não dá nem para assistir ao vídeo pensando que há famílias a bordo. Que ali pais podem ter perdido seus filhos. Que filhos podem ter perdido seus pais.
Quatro homens e quatro mulheres morreram. Treze sobreviventes encontram-se em hospitais nas cercanias, encaminhados pelo Corpo de Bombeiros e pelo SAMU.
Relatos descrevem que vidas foram salvas porque o balão se aproximou do solo, antes de subir pela última vez e cair de forma brusca e derradeira, num átimo suficiente para algumas pessoas saltarem, entre elas o piloto. Depois, o aparelho explodiu, ainda com parte dos ocupantes.
O ex-prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro (União Brasil), de passagem por Praia Grande, afirmou pelas redes sociais que realizaria o tour com a esposa, e só não embarcou porque não havia vagas.
As causas do desastre vêm sendo apuradas. Já se sabe que os documentos do balão estavam em ordem, e que o piloto tinha licença para voar. Verificou-se que as condições climáticas eram favoráveis. De acordo com o piloto, o foco de incêndio se alastrou a partir do maçarico auxiliar que estava dentro do cesto e que serve para iniciar a chama do balão principal.
Um programa turístico comum na região se converteu em filme de terror, causando comoção na cidade.
Praia Grande é conhecida como a Capadócia Brasileira. Tem localização privilegiada entre os cânions do Itaimbezinho e Malacara.
Nos finais de semana, cerca de 30 balões colorem o horizonte. Em voos de 40 minutos, é possível acompanhar a extensão dos parques nacionais de Aparados da Serra e Serra Geral, assim como a frondosa vegetação das montanhas e os paredões dos vales.
Trata-se da tragédia mais grave do balonismo no país. Aconteceu seis dias depois de um acidente com outro balão de ar quente, na zona rural de Capela do Alto, interior de São Paulo, na manhã de domingo (15), que resultou na morte da psicóloga Juliana Alves Prado Pereira, de 27 anos, e deixou 11 feridos. Nesse caso, o piloto do balão foi preso em flagrante por homicídio culposo. Segundo a polícia, ele estava com a documentação irregular, além de ter licença somente para voos particulares.
Não é recomendável para a saúde emocional cogitar a beleza se desdobrando em pânico: aquela vista panorâmica de 360º, para as fendas históricas e a planície litorânea, transformando-se pouco a pouco na visão estreita e insuportável da própria morte.