
Sempre fui fã de futebol, a ponto de a assistir a qualquer campeonato, a qualquer divisão, na televisão. Fico hipnotizado.
Quem me conhece sabe que sou colorado fanático. Contagiei meu filho Vicente.
Eu o levava no colo, no cangote, de mãos dadas, ao Beira-Rio, desde o começo da sua vida. Com a Mariana, também tentei, porém ela não curtiu muito o esporte. Menos mal que não trocou de manto, apenas tornou-se neutra.
Já Vicente virou mais adorador do que eu. Não perde um jogo no estádio e traz informações das rodadas e das competições com mais prontidão do que o ChatGPT.
Agora, uma digressão: sou de uma família majoritariamente de gremistas. O que provocou a minha adesão ao vermelho não foi a áurea esquadra dos anos 70, com Falcão, Valdomiro e Figueroa, mas a torcida.
Eu me apaixonei pela torcida colorada. Quando entrei no estádio pela primeira vez, eu me senti em família. Aquelas bandeiras tremulando, aqueles brados de incentivo combinavam comigo.
Não se escolhe um time pela escalação do momento, pelas glórias do momento, e sim pela massa febril. Por extrema identificação com quem vibra ao seu lado.
Nunca cogitei gostar de basquete, de NBA. Não estava nos meus horizontes acompanhar 82 jogos da temporada regular, além do mata-mata.
Afora o que dedico ao futebol, não imaginava tempo disponível para tamanha empreitada.
Assim como converti meu filho ao clube do povo, ele me transformou em seguidor fiel do Indiana Pacers. Fui abduzido pela sua paixão. Passei a penar com ele, de tanto ouvi-lo falar daquilo. Eu me vi obrigado a estudar, a aprender a pronunciar em inglês a nominata dos atletas, a absorver as regras, a discutir os erros de arbitragem.
Cheguei até a questioná-lo sobre o motivo de ter optado pela equipe de Indianápolis entre trinta alternativas, e justamente uma que jamais havia conquistado a NBA.
— Precisava ser sofrido como o Inter? Por que não Lakers, Chicago Bulls, Celtics?
Vicente me respondeu com uma pergunta:
— Por que você escolheu o Inter? Para sofrer ou porque sempre acreditou que era possível?
Exatamente: escolha.
A liberdade da escolha.
A liberdade de se encontrar entre seus iguais.
Não foi uma moda ou tendência que o angariou. Não foi um ídolo que o cativou. Não foi Jordan, Kobe, Magic, LeBron ou Bird, mas a dinâmica leal e fiel da multidão ao redor de um nome, de um escudo e de uma história.
Da mesma forma que nossos armários ostentam coleções de camisetas vermelhas, agora o amarelo e o azul — regatas, casacos, moletons — crescem a cada campeonato.
Nesta temporada, Indiana alcançou sua segunda final da Liga com o Oklahoma City Thunder. A guerra durou sete trepidantes batalhas. Na decisão derradeira, no domingo (22), na casa do adversário, o maior astro da equipe, Tyrese Haliburton, teve uma ruptura no tendão de Aquiles.
Deixou a quadra chorando. Era o fim da coroação. Ele já vinha lutando contra um estiramento muscular e se mantinha no sacrifício.
A derrota contou com requintes de crueldade: Haliburton recém havia feito três cestas consecutivas de três pontos, ensaiava uma atuação de gala, Indiana sobrava na frente.
Tudo indicava uma vitória com folga. O acaso, no entanto, roubou novamente a chance de título inédito. E logo no primeiro período, com uma lesão assustadora que acabou com o psicológico da franquia.
Não faço ideia de quando Indiana voltará aos playoffs. Talvez demore. Talvez nunca consiga. O cenário muda rapidamente.
Estamos de luto de uma fantasia. Mata-se o sonho — não a vontade de sonhar.
Isso é torcer. Não importa o que aconteça.