
Você se dá conta de que está ficando velho pelo número de papas que já testemunhou. A troca do sumo pontífice é uma espécie de ampulheta.
Eu presenciei seis papas ao todo, tendo acompanhado cinco conclaves — cinco fumaceiras brancas na chaminé da Capela Sistina.
Paulo VI (1963–1978) foi o papa do meu nascimento e da minha primeira infância em Caxias do Sul e Porto Alegre. Permaneci abençoado por ele até os meus seis anos.
De João Paulo I (1978) não consegui gostar nem desgostar. Tornou-se o papa-borboleta: efêmero, durou pouco, apenas 33 dias.
Sua morte repentina, por ataque cardíaco, aos 65 anos, gerou teorias de conspiração — teria sido envenenado, segundo alguns. Até porque havia derrotado com folga o “ultraconservador” Giuseppe Siri. Nunca foi feita autópsia.
João Paulo II (1978–2005), o papa polonês, peregrino, realizou um total de 104 viagens internacionais ao longo do seu pontificado, com destinos em 129 países, além de 146 roteiros dentro da Itália. Ninguém o superou na estrada. Essa quantidade de viagens foi maior do que a de todos os herdeiros de São Pedro anteriores somados, percorrendo mais de 1.167.000 km.
Acabou sendo o mais longevo da minha existência. Com ele, atravessei grande parte da minha vida — até os 33 anos. Poderia não ter sido assim: sobreviveu a um atentado em 13 de maio de 1981, na Praça de São Pedro, baleado e gravemente ferido por Mehmet Ali Ağca, um terrorista turco.
Um ano antes, em 4 de julho, esteve em Porto Alegre — o único, por enquanto, a visitar oficialmente o Rio Grande do Sul. Eu mesmo gritei "Ucho, ucho, ucho, o papa é gaúcho" durante sua missa na rótula da José de Alencar com a Erico Verissimo, que reuniu 300 mil pessoas.
Eu o vi de longe, como uma gaivota no nosso céu anil. Apareceu também na frente da Catedral Metropolitana. A multidão se amontoava na Praça da Matriz. Muitos fiéis subiam no monumento a Júlio de Castilhos.
Tomou nosso escaldante chimarrão e brincou com o nosso clima:
— Diziam que aqui era frio. Eu sinto o contrário: um grande calor.
Sua passagem hipnotizou a minha mãe, que não parava de cantar, pelo mês de julho inteiro, em qualquer lugar:
“A benção, João de Deus, o povo te abraça, tu vens em missão de paz, seja bem-vindo, e abençoa esse povo que te ama”.
Era um chiclete mental. Tanto que ainda sei a canção de cor.
Bento XVI (2005–2013) mergulhou em oito anos de introversão e discrição. O papa que não queria ser papa — inclusive renunciou, algo raríssimo na história.
Depois vieram os mais recentes: Francisco (2013–2025), nosso primeiro papa latino-americano, que resgatou a confiança no Vaticano com sua simplicidade jesuítica; e agora Robert Francis Prevost (2025–), esse simpático agostiniano com dupla nacionalidade, americana e peruana.
Em meu comentário de manhãzinha na Rádio Gaúcha, compartilhei minha tese da velhice a partir dessa sagrada linha do tempo com o apresentador Antonio Carlos Macedo. Ele sorriu e rebateu:
— Sou do time que nota que está ficando velho ao perceber que o papa é mais novo.