
Ouvia com frequência de amigos que uma das maiores sensações de liberdade era tomar banho de mar completamente despido, em pelo vivo.
Eles se gabavam. Traziam histórias de balneários e ilhas desertas em que afirmavam ter exercido o poder de nadar do jeito que vieram ao mundo.
Adolescente, com 14 anos, espinhas no rosto, nenhuma namorada na época, eu não tinha com quem dividir essa aventura. Não queria acabar preso por atentado ao pudor. Seria melhor se dispusesse de uma parceria para partilhar a autoria da loucura, principalmente no caso de algo dar errado.
Já terminava o veraneio em Rainha do Mar, fevereiro chegava à sua metade, eu voltaria às aulas em seguida, e via pouca esperança de romance no horizonte — a companhia da família reduzia as minhas chances.
Ecoava esta cisma: será que é tão bom assim ou o povo exagera?
Não me apetecia a ideia de arcar com as consequências sozinho. Não teria álibi para provar a façanha. No entanto, eu me abasteceria de informações para descrever o mergulho e não me sentir tão excluído nas rodas.
Planejei minha ida à praia de madrugada, aproveitando a extensão da areia desocupada, pelas cinco horas da manhã, entre a penumbra e a alvorada. No máximo, poderia encontrar alguns pescadores.
Saí de fininho, sem fazer barulho, pegada a pegada na ponta dos pés. Nem preparei café, para não precisar explicar o que faria. Meus pais não acreditariam em qualquer desculpa, já que eu costumava despertar tarde e, de repente, apareceria mudando radicalmente meus horários.
Passei na rua por um jornaleiro de bicicleta, arremessando a edição do dia nos jardins. Não cumprimentei. Fingi que eu não existia.
Caminhei na orla até localizar um ponto isolado, remoto.
Criei coragem, tirei a bermuda, amarrei-a num degrau da escada da guarita do salva-vidas, para não correr o risco de o vento levar.
E corri em direção às ondas, assustando as gaivotas e os peixes.
Dava as minhas braçadas, boiava, mas só tremia. Não vinha aquele sentimento de leveza e de imponência do infinito, de fusão com a natureza, de entrega holística que os outros me relatavam. Gritava de frio, sofrendo espasmos de choque térmico. Comecei a contar alto: “1, 2, 3, 4”. Comecei a cantar alto: “Prefiro ser/ essa metamorfose ambulante/ eu prefiro ser/ essa metamorfose ambulante/ do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo…”.
Esperava me adaptar à correnteza gelada. Em algum momento, jurava que o banho selvagem me agradaria, que valeria a pena, que eu desfrutaria do prazer do desembaraço total, do bem-estar da nudez.
Mas, no fundo, desejava unicamente regressar ao quentinho da cama e dormir debaixo do meu edredom.
Desisti, resignado, da experiência.
Tiritando, longe do conforto de uma toalha e despossuído da luz solar para me secar ao natural, fui atrás da minha bermuda.
Cadê ela?
Simplesmente tinha desaparecido. Não havia sinal de gente nas redondezas. Lembrava-me de ter feito um nó firme de marinheiro. Como havia sumido?
Não me restava tempo para solucionar o enigma. Logo amanheceria, logo o sol se levantaria e inundaria os telhados com seu vermelhaço, logo o lugar estaria apinhado de guarda-sóis.
Raciocinei, tentando me incentivar: “são apenas duas quadras. Você consegue!”.
Decidi não correr. Alguém pelado correndo fica ainda mais pelado. Chama muito mais atenção.
Andei como se não fosse nada. Com calma. Controlando a respiração. Desprovido de pressa — para não agravar o vexame.
Na mesa de bar, ninguém mais me ganharia: o que é nadar sem roupa perto de passear pela cidade sem roupa?