Carlos Gerbase
Muitas pessoas gostariam de ser artistas, mas poucas conseguem. Esse é o senso comum. Talvez seja mais adequado dizer: muitas pessoas gostariam de ser artistas de verdade, mas poucas conseguem. Com essa variante, fica estabelecida uma diferença, digamos, entre um malabarista do Cirque du Soleil e o sujeito pintado de cinza metálico que gira cones pelo ar durante o sinal vermelho. Ou entre Van Gogh e o cara que faz pinturas de cavalos com longas crinas pra vender no brique da Redenção. Umberto Eco costumava dizer que essa oposição é enganadora, porque, entre a alta cultura (Van Gogh) e a baixa cultura (o malabarista da esquina), há uma grande fatia intermediária, uma cultura mediana, que estabelece um diálogo entre o andar de cima e o andar de baixo da produção de arte e, é claro, também do seu consumo.