
Raras vezes o Brasil testemunhou uma combinação tão desprezível de covardia, crueldade e canalhice quanto a que sustentou a fraude bilionária contra aposentados e pensionistas do INSS. A investigação da Polícia Federal revelou não apenas mais um escândalo de corrupção, mas um ataque direto a uma das parcelas mais vulneráveis da população.
Os alvos foram escolhidos a dedo: 67% das vítimas são aposentados de zonas rurais — pessoas simples, afastadas dos centros urbanos, sem acesso a agências da Previdência Social para buscar esclarecimentos ou exercer seus direitos. Também foram atingidos doentes com mobilidade reduzida, pessoas com deficiência, indígenas e analfabetos.
Enquanto isso, entidades de fachada, com poucos associados e receitas irrisórias, viram subitamente seus quadros sociais e arrecadação explodirem, fortalecidas por filiações fraudulentas feitas sem qualquer autorização. Um exemplo gritante é o da Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos (Ambec), cuja receita saltou de R$ 135 em 2021 para R$ 91 milhões em 2023.
Tudo isso aconteceu com a complacência — ou omissão criminosa — de autoridades e servidores públicos. Nesse contexto, é inevitável mencionar os ocupantes de cargos-chave no setor, o ex-presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e o ex-ministro Carlos Lupi. Este levou quase um ano para agir após receber as primeiras denúncias. O outro afirma ter adotado medidas para conter as irregularidades, mas justifica que mudanças estruturais exigem tempo, sem explicar porque o seu nome apareceu em anotações de um lobista envolvido com a fraude. A Polícia Federal investiga se Stefanutto e o procurador-geral afastado do INSS, Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho, receberam propina.
Temendo desgaste político, o governo Lula corre para garantir a devolução dos valores descontados — porém, utilizando recursos públicos, sob o argumento de que a restituição precisa ser ágil e não pode depender da morosidade de ações judiciais para reaver os bilhões desviados. Em outras palavras, mais uma vez, quem arcará com o prejuízo será a sociedade — inclusive as próprias vítimas do esquema.
O mínimo que se espera é cadeia para todos os crápulas envolvidos nesse golpe repugnante. Mas sejamos realistas: num país onde poucos são punidos, é difícil acreditar que o caso não seja mais um a se perder no labirinto da impunidade.