
Na última semana nos dedicamos a ficar indignados com o aumento do número de deputados federais. Chamei-os, aqui neste espaço, de sanguessugas do povo. Como o brasileiro não tem uma semana de paz, outras contas chegaram nesses últimos dias, além de avisos de que fizemos mais parcelas para pagar nos próximos anos. Refiro-me agora a uma casta superior, da elite do Judiciário, Ministério Público, Tribunal de Contas e Defensoria Pública. Eles jamais decepcionam quando o assunto é garantir mais um privilégio sob o rótulo de direito adquirido. Sempre que possível, retroativo.
Esta semana, mais uma vez, os penduricalhos voltaram ao debate. São acréscimos salariais que furam o teto constitucional com naturalidade e se apresentam à sociedade com nomes palatáveis como auxílios, ou licenças, ou ainda as compensações. O pacote é tão gordo quanto constrangedor. Mas nada parece corar o rosto das castas superiores, em diferentes âmbitos.
Teve licença-prêmio retornando à folha de pagamento. Teve também pedido de pagamento por excesso de trabalho, relativo aos últimos 10 anos. Sobrecarga todos os trabalhadores comuns conhecem. No judiciário a conta não tem mesmo como fechar. Com recesso de fim de ano e dois meses de férias, os juízes e desembargadores não dão conta de tantos processos. Enquanto isso, os mortais resolvem a vida com seus 30 dias ou nem isso, no caso dos autônomos. Estamos falando dos salários mais altos, da melhor estrutura, dos mais altos privilégios e que ainda assim buscam sempre uma brecha nos cálculos e leis para encontrar mais fontes de aumentar a renda de poucos. O impacto financeiro é enorme. O impacto quando a sociedade grita é ineficaz, já que nada acontece. As togas estão acima do bem e do mal.
Enquanto escolas públicas funcionam em prédios deteriorados, pacientes aguardam meses por uma cirurgia no SUS, professores mal recebem o básico, o Judiciário avança com seus auxílios com a confiança de quem sabe que ninguém ousará barrá-los. São intocáveis.
A origem do problema é estrutural e política. Os penduricalhos são resultado de uma engrenagem corporativista, que opera à margem da realidade do país e que se fortalece com silêncio, medo e omissão. O povo, cansado de tantas frentes de batalha, não tem energia para mais essa. Seria importante romper o ciclo da normalização. Juízes e promotores merecem respeito e boa remuneração, isso é inquestionável. Mas há uma diferença imensa entre remuneração justa e privilégios obscenos. O Brasil não pode jogar a toalha e se afundar ainda mais em desigualdades.