
Eu sei o que vocês pensaram sobre Alexandre de Moraes quando ele foi indicado à vaga de Teori Zavascki no Supremo Tribunal Federal. Em 2016 Moraes se tornou ministro da Justiça do governo Michel Temer e, no ano seguinte, foi para o Supremo. Era época de “Fora Temer” estampado em muros e repetido em conversas. A saída de Dilma Rousseff, embora apoiada por muitos, parecia mostrar que tudo poderia piorar.
Moraes chegou com a desconfiança que todo ministro carrega nas costas, mas um indicado por Temer tinha ainda mais peso naquele momento. Vocês vão lembrar da carta que supostamente vazou com o então vice-presidente se mostrando fardado para quando a presidente caísse, e ela caiu ao não fazer questão de agradar o Congresso. Depois vieram as conversas gravadas na residência do já presidente com empresários e uma sucessão de escândalos que não saíam dos noticiários. Temer, que não sabia como Deus o tinha colocado lá, na presidência, também foi alvo de denúncia por corrupção.
Imaginava-se que Alexandre de Moraes seria o advogado de luxo de Michel Temer. Uma marionete trabalhando por quem o indicou. Pensava-se o mesmo sobre os demais quando foram carimbados por presidentes, porque é assim que acontece uma indicação para o Supremo Tribunal Federal.
Nesta semana, Moraes esteve nos holofotes mais uma vez quando a série de depoimentos dos investigados por golpe no Brasil após as eleições de 2022 foi televisionada e acompanhada como se fosse uma série bem brasileira. Só que o público esperava um personagem mais duro, mais combativo, como nas canetadas que dá no alto de sua cadeira do Supremo. Na realidade o plot twist foi um Xandão contido, bem humorado, até brincalhão.
ambém declinou um convite brincalhão de ser vice de Bolsonaro nas próximas eleições. O ex-presidente nem poderia falar sério mesmo, já que está inelegível. Moraes ainda precisou questionar sobre dinheiro que diziam que ele embolsou e plano de prendê-lo. Nem o roteirista com mais imaginação teria pensado em falas tão bem escritas. Nem um ator teria ensaiado ou improvisado tão bem.
Acompanhamos um dos casos mais absurdos de ataque à democracia, que é de um plano de golpe após perder eleições, como se fosse novelinha das seis e que o núcleo comediante se mistura com o dramático e político. Essa semana foi um suco de brasilidades que nos faz lembrar que o bom do Brasil é que aqui tudo vira meme e a gente ri das próprias agruras, mas que o ruim do Brasil também é que tudo vira meme. Talvez a gente precise se levar mais a sério. Talvez a gente nem sobreviva se levar tudo a sério.