
Misoginia pode parecer uma palavra difícil, mas seu significado prático é bem conhecido. É o ódio, desprezo ou aversão a mulheres. Está nos ataques disfarçados de opinião, no tom condescendente, nas tentativas de silenciamento, nas piadas de mau gosto e nos discursos que tentam humilhar e diminuir mulheres por existirem fora dos papéis esperados. A grosseria e machismo de senadores contra a ministra Marina Silva são um exemplo nacional dessa semana. Não preciso concordar com ela no mérito da pauta para entender os ataques. Não é uma questão de direita e esquerda ou do governo do qual ela faz parte, mas, sim, uma questão humana.
Outra palavra que mais parece xingamento hoje em dia é feminismo, como se lutar por equidade fosse algo ofensivo. O feminismo não prega superioridade das mulheres, prega justiça nas oportunidades. É difícil entender por que muitos acham normal defender os direitos dos homens, que devem ser defendidos, mas se incomodam com quem defende os das mulheres. Muitas vezes o direito em questão é simplesmente o de viver. Feminismo não é palavrão. É um movimento político, social e humano que defende que mulheres podem votar, trabalhar, estudar, não depender legalmente de um homem para viver e tomar decisões.
Entendo que o radicalismo, na pauta que for, é maléfico para o entendimento de grupos que aparentemente não têm a ver com aquela causa. Por isso essa fama errada que o movimento trouxe a muitos. Há de se entender que feminismo é relativo à humanidade. Defender o direito das mulheres é defender a equidade, ou seja, oportunidades condizentes com as diferenças. É diferente de igualdade, que entende que, com os mesmos elementos, todos podem chegar ao mesmo lugar. É evidente que mulheres e homens são diferentes, sob muitos aspectos, que precisam ser levados em conta.
O que quero chamar atenção aqui é que casos de violência física contra mulher ou até os mais extremos, de feminicídio, não são uma novidade ou um fenômeno atual. Fazem parte de uma cultura que se perpetua quando achamos normal um homem mandar uma mulher se colocar no seu lugar, sem nem ter vergonha das câmeras que transmitem uma sessão para o mundo todo. Faz parte de um mundo que não tem um país sequer com índice zero de assassinato de mulheres motivado por seu gênero. Quantas mulheres viveram silenciadas por seus maridos, pais e filhos enquanto eles viveram a vida que queriam, sem prestar contas. Quantas ainda sofrem caladas para proteger suas crianças. Quantas apanham por usar a roupa que o marido acha que não deveriam. Quantas ouvem que são loucas quando entendem que estão sofrendo violência psicológica. Quantas morrem graças à misoginia, ao machismo e a não falarmos sobre isso. A violência simbólica vem antes da física. Ela prepara o terreno. E quando achamos exagero chamar a atenção para isso, estamos contribuindo para o ciclo continuar.